Gravidade levita

sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Cadencio de prudência o meu coração. Evito pensar o tanto quanto mergulho no sentir. Se aprofundar um pouco mais, corro para os seus braços. A vontade é de me entregar sem qualquer receio. Tentando aprender — desprendo. Tentando não me apaixonar ainda mais — amo.

O ritmo acelerado no peito tem velocidade íntima ao anseio de estar perto, junto, dentro. Seria um sonho entrar nesse coração admitidamente fechado. Queria ser a chave. Queria que o espelho em que te vejo fosse o mesmo que pudesse sentir o reflexo real de sua magnífica beleza.

Não sou tão altruísta assim... Faço tudo pela sua felicidade que por conseguinte é a minha também. Também me doo desinteressadamente na certeza de quem sabe o que quer.

Sua música arranca de mim suspiros. Faz minha alma voar. Devolve aos meus olhos o mesmo brilho da primeira vez que percebi você. A letra se escreve no meu sentimento mais profundo e se traduz no que eu sempre desejei ouvir e ser. Reconheço o esforço em voltar a amar e disposto — espero, ajo, tento alcançar a nota de seu ritmo. Ecoa sua voz por todo o meu ser. Causa em mim paralisia que motiva a seguir. Torna-se causa dos meus sonhos. É você, é você e repito para mim mesmo que é você e o universo devolve para mim: é mesmo você. As estrelas sabem o que canto. Depois de você, nenhuma outra pessoa seria. O lado oculto da lua é o mesmo lado oposto que se desvenda na sua luz. Por que faz isso comigo?

Reverencio sua beleza quântica e gravito na sua essência artística admirando seu tato, seu fato, seu ato, seu paladar. Aceito de bom grado o desassossego pertinente que visita meus pensamentos ao ir dormir e ao acordar. Invade. E, eu permito. E aceito as desculpas quase esfarrapadas que ironizam a sua distinta criatividade. Dedico meu tempo, minha existência e admito a necessidade da sua companhia. Você é a mais densa e a melhor experiência de vida que já me visitou. Exceto nas vezes que me faz sofrer. Deve ser desatenção, não pode ser crueldade.

À medida que essa paixão fica mais antiga, mais forte também é o gostar. Relembro cada degrau dessa vivência enquanto voo e despenco. Primeiro me encanta, faz eu redescobrir na sua intensidade a minha insanidade perdida. Depois foge, some e me angustia. Volta garantindo que não sou só uma aventura, recobra meu ânimo, mas ao fim entra pra casa e não me convida. Insisto porque o amor é também uma teimosia. Responde com franqueza com um sem rótulo nos braços e eu rotulado vejo que essa é uma luta injusta, claro prenúncio de uma batalha perdida. Decido que você não é uma batalha, uma missão e que tampouco sou eu seu milagre. Respiro. Recuo. Entendo o preço da perda quando me manda sair da sua vida. O mundo desaba, o grande teto do céu me esmaga. Aniquilado, choro com a firmeza de quem nunca mais quer saber de gostar de alguém. Desisto de me manter a devorar as sobras e ter migalhas. Partido, não quero mais partes. De repente, tudo muda, um retorno ao começo e eu mais experiente visto o senso de que dessa vez, a última vez, eu vou conseguir mostrar que é você e somos nós, só nós dois, dois que somos um! Enxergo na vibração dos átomos que você é o meu milagre e para ti posso ser quem te faz único. Inacabada, a história prossegue... Que palavras e músicas a completarão?

Na balança das qualidades e defeitos, peso para cá ou para lá a fim de ser perfeito para você também. Tento não sufocar. Tento não trocar os pés pelas mãos. Tento sentir mais e pensar menos. Ser eu mesmo sem me mostrar por completo. Tento provar que sou o contrário de todo o seu passado e que presente serei em todo o futuro. Se pudesse te beijaria agora a testa, abraçaria suas mãos, acolheria seu olhar e faria voar a sua alma. Quais são as formas para te entender?

Seus poemas ocultam você na prática insistente de obrigar o leitor a interpretação que jamais definirá o que quer dizer. É múltiplo, plural, contraditório. Sua confusão é combustão que em um segundo faz nascer, viver e morrer para renascer de novo. Eu, pobre leitor de seus mistérios, desenho você no vidro frio da janela vaporizado pela madrugada de serra. Sua dualidade... O que esperar de você? Ar que atiça meu fogo. À distância, venço os medos de que outros braços te acariciam. Ponho todo o meu ciúme à prova. Perto, venço os medos de que eu não consiga te convencer que sou eu para você o que já é para mim. A cama está tão grande. Meu peito está enorme. Sinto sua presença... Queria que a vela da mesa do jantar romântico não se consumisse. Namoraria suas mãos e beijaria seus olhos sem parar. Por que seu olhar brilha? Por que seu sorriso me encanta tanto? Não fale mais nada! Apenas me beije, enquanto te abraço. Deixa eu abrir as portas do seu coração... Já enxergo a sua alma. Já tem toda a minha amizade.

Quanta maldade é existir e eu não ter o direito de provar mais do que dizer que é... Paixão se transformando em amor. Absurdo sentir saudade antes mesmo de se despedir. Já escolhi você. Escolha-me também e vamos nos fazer bem um ao outro. Correr um do outro só se for na beira da praia quase deserta. Fugir só se for das agruras do mundo. Todos os caminhos querem me levar a você. Todas as trilhas são você e eu posso te recobrar, sem comparar, as grandes novidades do amor e do que o amor é capaz. Não quero antecipar decisão qualquer, ainda que considere que eu mereça ... Desde que na condição de te impedir de dizer de novo não.

Meu coração valente aprende a ser mais prudente. Mas continua pulsando com seu nome nos intervalos de cada batida e com seu rosto em todos os demais momentos. O que eu faço para te ver feliz? Qual a cadência ideal para fazer desse som algo natural?

Ah! Sua música, sua arte, sua lógica... Como posso te amar tanto tendo tão pouca chance (uma chance, talvez) de provar que posso ser mais que um dia ou um final de semana. Que o desejo da carne é supérfluo diante dessa aparição voluntariosa de fazer de você protagonista do meu destino e tema definitivo do enredo dos meus dias.

Minha literatura fica pobre diante de sua música. Ofereço minhas poucas quinquilharias românticas para derrubar as suas defesas. Minha gentileza tenta metralhar a obviedade de ser preterido. Meu otimismo finge força para cristalizar a intenção de ser inesquecível.

Se eu fosse racional, já teria ido. Mas desde que a razão se tornou você sou só emoção... Se eu pudesse, já teria te respondido o porquê ser eu. Basta você arrancar essa prudência que vestiu meu coração e permitir que eu faça o que tem que ser feito. Talvez eu não tenha tanto tempo assim... Talvez eu possa te dar todo o tempo do mundo. Talvez você me daria mais tempo para ser feliz... Gravitar com leveza de ser quem também faz levitar. Caminhar juntos um na passagem do outro à margem do amor que persiste e se devolve apenas se for um para o outro.

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Wanderson Nogueira

Wanderson Nogueira

Observatório

Jornalista, cronista, comentarista esportivo, já foi vereador e agora é deputado. Ufa! Com um currículo louvável, o vascaíno Wanderson Nogueira atua com garra no time de A VOZ DA SERRA em Observatório, sua coluna diária.

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