Friburguenses órfãos - 4 de janeiro 2012

sexta-feira, 06 de abril de 2012

Dizem os antropólogos e estudiosos de ciências sociais que é mais fácil mudar uma situação econômica do que cultural. Os hábitos podem mudar, mas requerem tempo e paciência. Não se muda uma cultura de uma hora para outra. Tem que insistir bastante e esperar, às vezes, que passem gerações para se atingir o novo modelo. Temos vivido isso na questão das chuvas e na cultura de prevenção. Estamos nos habituando a se proteger das tragédias climáticas. Mas há outras, talvez menos importantes, é verdade, que nem iniciaram sua longa trajetória.

Em Nova Friburgo, existe a cultura de que fim de ano, Réveillon, ninguém passa na cidade. Muitos devem acreditar que os 180 mil habitantes da terrinha saem daqui rumo ao litoral. Não só acreditam como trabalham com esse conceito. Logo quem fica, fica a ver navios, ou melhor, quem vê navios é quem vai para o litoral... Mas você entendeu o que quis dizer.

O poder público até fez a sua parte. A Prefeitura realizou a festa da virada que recebeu um bom público na Praça Dermeval nos dois dias de evento. Aliás, muito bem organizada a festa que segundo a Prefeitura foi toda bancada por empresários locais, não tendo assim nenhum centavo de dinheiro público investido nela.

Mas bares, restaurante e parte do comércio simplesmente deixaram órfãos não só os friburguenses como os turistas que aqui vieram. No mínimo, inusitado para não dizer incoerente que uma cidade que se considera turística não tenha seu comércio e restaurantes funcionando num feriado de fim de ano, início de férias. No comércio muitos já estavam fechados na sexta, 30, a maioria não abriu segunda, 2, e só retornaram na terça, 3. Ainda há aqueles que só reabrirão amanhã, 5. Deve estar sobrando, afinal cada um sabe onde o calo aperta.

Na segunda, eu fui um dos muitos que caçaram um restaurante para almoçar. Quase todos fechados. Sorte ou visão empresarial de quem abriu. No que eu fui, fila e nem lugar para sentar tinha. Isso é respeito com as pessoas que passeiam ou que estão trabalhando. Parabéns a quem abriu!

Se formos falar de barzinhos, aí a coisa fica feia. Muitos já nem voltaram depois do Natal. Duas semanas fechados ou de férias coletivas. Do Cônego a Mury, de Olaria ao Centro. Quase tudo fechado. Vai ver friburguense e turista não gostam de um chopinho em pleno verão nas festas de fim de ano. O Casarão de Minas que abriu na semana quase toda, a exceção de sexta e sábado, lotou! Bom exemplo.

Não quero dizer com isso que ninguém mereça folga. No entanto, há que se estruturar melhor para que nessas épocas do ano parte das equipes trabalhe e a outra folgue e vice-versa. O que não dá para admitir é que Nova Friburgo, a tal cidade turística e de 180 mil habitantes em que no mínimo metade fica na cidade, vire uma cidade fantasma.

Níveis de chuva

A Defesa Civil local tem sido insistente em explicar à população o que significa cada estágio de alerta: vigilância, atenção, alerta e alerta máximo. Agora, também tem se empenhado em dizimar as dúvidas quanto ao que é chuva forte, moderada e fraca.

 

Constância

Chuva moderada, como as que caíram de maneira insistente nos últimos dias em Nova Friburgo, são aqueles que ficam abaixo de 25 mm no período de uma hora. Para se ter uma ideia, segundo a Defesa Civil, o maior volume de chuva do fim de semana dentro dessa medição foi registrado em Olaria—23 mm. A constância tem preocupado a Defesa Civil mais do que propriamente a força das recentes chuvas.

 

Facebook herói

A rede social foi a principal central de troca de informações entre moradores das diversas localidades do município quanto às últimas chuvas. O Facebook foi um festival de fotos flagrando quedas de barreiras, transbordamento de rios e compartilhamento de informações oficiais e de órgãos de imprensa. Ajudou muita gente a se orientar.

 

Facebook vilão

Mas a rede social foi também um festival de informações equivocadas ou no mínimo exageradas. Muitos boatos e rumores foram plantados, além de alguns acompanhados de protestos válidos e outros no mínimo absurdos. Entre os compartilhamentos errôneos, a queda de pedras no Hospital São Lucas e o fechamento da ponte de Bom Jardim. Ambas mentirosas.

 

Informações desatualizadas

Atrapalhou ainda no Facebook o replique de informações desatualizadas, ou seja, gente que compartilhou informação de domingo, 1º, na segunda, 2, confundindo os internautas. Rios que tinham transbordado, mas que já haviam voltado ao leito e barreiras e árvores caídas em estradas que já haviam sido retiradas, só para citar como exemplos. Isso sem contar fotos relativas à tragédia de janeiro de 2011.

 

A parte de cada um

Vale a ressalva: só confie em informação dos órgãos de imprensa responsáveis e não espalhe aquilo que não tem certeza, nem pelas redes sociais, nem por outros meios. E isso vale para todo o verão, aliás, vale para a vida inteira!

Imprensa

Os veículos de comunicação de todo o país voltaram a Nova Friburgo para cobrir as chuvas do início de ano. TVs, rádios e jornais de abrangência nacional. O município voltou a ser notícia destacada. Duas averiguações vieram das reportagens nacionais: avanços na prevenção, principalmente pelo envolvimento popular e nada ou quase nada de reconstrução.

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Wanderson Nogueira

Wanderson Nogueira

Observatório

Jornalista, cronista, comentarista esportivo, já foi vereador e agora é deputado. Ufa! Com um currículo louvável, o vascaíno Wanderson Nogueira atua com garra no time de A VOZ DA SERRA em Observatório, sua coluna diária.

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