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Fotossíntese inteira
São tantas canções, tantos verões com mais de cinco versões para acreditar. São tantos deslizes, argumentos e cabides pendurados no ar. Dirão que a luz e a escuridão são importantes para sobreviver. São mais do que as fases da fotossíntese. O amor é mesmo fotossíntese inteira. Você, essa energia luminosa capaz de chegar ao centro de toda reação que mobiliza moléculas, alma e coração. Você, essa química que rouba da atmosfera os componentes necessários para que o tempo se recicle no reencontro de tudo que é essencial para ativar sentimentos.
Alguém me perguntou se eu era apaixonado por você. Disse que talvez. Perguntou se eu estava encantado por você. Respondi que possivelmente. Outro me perguntou se eu gostava de você. Falei que provavelmente. Em todas as incertezas, só tive e tenho uma certeza: você elimina tudo isso e todo o resto. Nada importa além do que está aqui. Não se trata, portanto, de encanto, gostar ou paixão. Isso tudo, mas acima do todo é cumplicidade advinda da intimidade que existe entre a luz e a terra. Gera tal fidelidade mais ao sentimento do que a você mesmo. Fiel? Sim! Mais ao sentimento do que propriamente a quem faz o sentimento existir. Pois não é o que traz, mas o que se constrói nesse encontro, nessa multiplicação de possibilidades.
Eu só quero você, ao ponto que não procuro outra coisa. Sorrindo esse sorriso que não se generaliza aos demais. Olhando esse olhar que não se iguala ao jeito de falar que até podem imitar, mas jamais confundir como sequer semelhante. Fazendo carinho com essa carícia que se encaixa a minha pele e me traz arrepio de leveza como nunca experimentei igual. Você: terra, raiz, caule e fruto. Você: sol, água, química e física - fotossíntese inteira.
As descobertas do passado se somam a novas equações que levam a resultados inovadores. Tanto curioso, quanto instigado observo o ciclo se desfazer para ser algo novo. O sentimento vem à superfície repleto de profundidade e diz: “vai, sem medo”. Sustentado pela admiração, firmo pacto com a vida, admitindo todas as dúvidas, mas sem colocá-las nos bolsos da calça. Recuso carregá-las para cima e para baixo e apenas te ouço atento enquanto fala. Gosto das pausas. Adoro o tom mais alto. Mas me intimido mesmo com todo o cuidado que dispensa em fortalecer o que existe. Não nego o flerte com a fantasia e imagino o futuro. Mas logo desperto e abraço mesmo esse instante agora que é melhor que tudo - existido ou pretenso.
Espero voltar. Deixo você ir. Rio. Luz e escuridão só existem na ausência um do outro. Aprecio a fotossíntese acontecer para garantir a sobrevivência. Eu, vivo mais do que sobrevivo quando você se apresenta sendo, sem perceber, todos os elementos e fases da fotossíntese que através de você - é inteira.
Wanderson Nogueira
Observatório
Jornalista, cronista, comentarista esportivo, já foi vereador e agora é deputado. Ufa! Com um currículo louvável, o vascaíno Wanderson Nogueira atua com garra no time de A VOZ DA SERRA em Observatório, sua coluna diária.
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