Felicidade da alma

sábado, 20 de agosto de 2016

Logo meus cabelos estarão brancos. Como se fosse da noite para o dia, os fios pretos estarão esbranquiçados, como a pele enrugará. Diferente daquelas rugas iluminadas pela claridade que vence a proteção do feto. Serão rugas que acusam a impetuosidade do tempo. O tempo. Tão igual para todos nós, é o tempo. Enlaça, faz nó. Sem dó. O que nos concede é também nos aproximar do pó. Ao ponto que dar é o mesmo que tirar. Nos enche de marcas, nos tira a vitalidade. Dá sabedoria, mas também peso ao corpo. Prova a mortalidade antes mesmo que a experimentemos.

Eu não sei o que acontece depois. Apenas imagino e confio no milagre do além. Mas não me peça a ousadia de supor o que é esse além. Apenas acredito que existe, porque no fundo  sei que dentro de mim há alma. Que não ganha cabelos brancos, tampouco rugas na pele. Não se perturba com o acúmulo das horas, mas se regozija dos acertos que muitas das vezes são conquistas advindas dos erros. Sou mais que o meu corpo e carrego dentro de mim esse mistério que só o tempo poderá me dar o privilégio de desvendar. Ou não.

E dessa mortalidade física (certeira) é bom que se saiba: a natureza nos vence sempre. Porque a natureza é maior do que nós, ainda que de forma insana insistamos em enfrentá-la, conduzi-la, quando em verdade somos parte dela - parte menor dela. Ou nos integramos a ela e cuidamos dela como sendo ela própria ou estaremos cometendo um lento suicídio que não afeta apenas a nós, mas a todos aqueles que herdam o que vem de nós. Outro fato é o agora. É uma dádiva maior do que o futuro ou o passado. O agora não altera o ocorrido, mas corrige percurso. O agora não antecipa o amanhã, mas prepara o terreno para o depois. Assim, o que se faz do agora é essencial para aliar caminho à caminhada, decidir a vida e deslumbrar felicidade. Por falar em felicidade... É o objetivo maior de estar aqui. O que me faz feliz? Esta é a pergunta mais importante de todas. Nenhuma questão se sobrepõe a essa ao ponto que a resposta responde a todas as outras possíveis perguntas. Cada um tem a sua, mas o mais interessante é que há um senso comum, talvez envolto em energia universal que nos leva mais ou menos para o mesmo sentido. Voltamos então à alma.

O que sente não é o coração músculo ou as ondas que trafegam pelo nosso cérebro. O que sente e se deixa invadir por sentimentos é algo dentro de nós que não pode ser medido em altura ou pesado em gramas ou quilos. Não se traduz em artigo científico definitivo, tampouco em fórmulas matemáticas. Ainda que gere o comportamento da face em sorriso ou lágrimas, não é um, nem outro. Eleva. Faz voar. Traz a experiência de saber diferenciar paz e guerra (experimentamos ambos a todo instante).

É a tal da espiritualidade que nos aproxima uns dos outros. Nos une em afetos, nos afeta em ideais. Nos traz brilho e apelos, nos faz querer ser mais. Acolhe em desapego. A verdadeira riqueza, aquela que pode ser carregada. O amor.

O combustível da alma e a razão da felicidade é o amor. Justo, digno, ético, coerente é o amor. Mas o que faz o amor não é nem a justiça, a dignidade a ética ou a coerência. O que faz o amor é a busca por ser justo, digno, ético, coerente, bom. Tão bom é o amor e tão bem faz ao corpo, à natureza, à alma e a esse mistério que desvendaremos um dia ou não.

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Wanderson Nogueira

Wanderson Nogueira

Observatório

Jornalista, cronista, comentarista esportivo, já foi vereador e agora é deputado. Ufa! Com um currículo louvável, o vascaíno Wanderson Nogueira atua com garra no time de A VOZ DA SERRA em Observatório, sua coluna diária.

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