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Escudo de pétalas de rosas
Com seu escudo de pétalas de rosas, ela vai... Corajosa. Determinada. Domando o vento, sem poder conter o tempo e o que o tempo faz. Essa tal fábrica de saudades e nostalgias - provoca. Essa incerteza de tudo - comove. Será que um escudo de rosas é capaz de proteger alguém?
Até pouco tempo atrás, diria que escudos de flores não protegem. Hoje, sei que protegem apenas aqueles que sabem empunhá-lo. Portanto, não é o escudo em si, mas quem o cultiva e o carrega. Corajosa, ela vai.
Sem saber que é tão coração, acreditando ser na maior parte razão. Mal sabe. Tem talento como poucos de unir razão e coração. Dessa junção, faz suas verdades e vai! Vai com escudo de pétalas de rosas atravessar o imenso oceano que se impõe entre nós e tudo que fica para o todo que vai.
É fortaleza de intensidades, salpicadas por sobriedade, que vez em quando polida pela embriaguez, bebe para se ter sóbria. Bebe dessa vontade de ficar para não fugir e vai. Voando, como uma pétala rebelde que escapa de seu escudo para apontar como bússola o caminho. Teria caminho o destino?
A mamãe pássaro empurra o filhote do ninho para que o pequenino descubra que tem asas. Há raros que não precisam ser empurrados. Mesmo sem forças físicas na mão, empunha o quilo de pétalas que fazem seu escudo, por pura valentia. E, tal valentia produz riqueza de sonhos que cabem apenas em sorrisos infantis.
É bom ser criança outra vez. Para chorar, sem vergonha. Para viver, sem medo. Fotos nos lembram daquela blusa de lã cosida pela mãe. O ponto meia duplo traz para a lã trançada o aconchego que só mão materna pode dar. E veste tão bem, tanto quanto aquece a felicidade de poder sentir saudade.
Escudo de pétalas de rosas não foi feito para proteção à saudade. Porque saudade é coisa boa, ainda que doída, dependendo da perspectiva com que se olha. Não diria que saudade é para os fortes. Saudade é para os vivos e vívidos que teimam em continuar produzindo saudades para depois.
O quarto fica vazio. Sem as roupas nas gavetas. Sem os cremes na penteadeira. O colchão está sem lençol e o perfume dos travesseiros já se perdeu pela monotonia do ventilador de teto. O barulho dos sapatos já não se faz ouvir no piso branco frio. Espaços vazios de memórias abarrotadas daquilo que não se pode levar nas malas.
Mas o que mais grita no fim é o silêncio ensurdecedor do sorriso e das ordens e dos relatórios de como foi o trabalho e o dia. Presença perversa na ausência do escudo de pétalas de rosas agora empunhado no outro lado do mar.
Wanderson Nogueira
Observatório
Jornalista, cronista, comentarista esportivo, já foi vereador e agora é deputado. Ufa! Com um currículo louvável, o vascaíno Wanderson Nogueira atua com garra no time de A VOZ DA SERRA em Observatório, sua coluna diária.
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