Era uma vez...

sábado, 21 de julho de 2018

Pelos próximos meses, a jornalista Laiane Tavares assina a coluna no lugar do titular Wanderson Nogueira. A Justiça Eleitoral determina que candidatos nas Eleições 2018 não podem apresentar, participar ou dar nome a programas de rádio e TV. A regra não se aplica aos órgãos impressos. Mesmo assim, o colunista e A VOZ DA SERRA, em comum acordo, optaram pela alteração neste período. Wanderson Nogueira volta a assinar o Observatório em outubro, após o período eleitoral.

A vida é uma ficção. Tudo que existe foi antes imaginado. Você pode pensar a existência pela perspectiva divina e ainda assim terá de concordar que tudo que existe foi antes imaginado por quem tudo criou. Se você aceita o processo evolutivo, também terá de reconhecer que tudo que o ser humano criou foi antes imaginado. Foi nossa capacidade de pensar além do que vemos e tocamos que nos trouxe até aqui.

Estamos em um lugar que pode parecer o topo das possibilidades. Se olharmos para o passado, e para o passado do passado, é quase certo termos a sensação de que este é o nosso máximo. Mas não é. Não estamos no topo, esse é um lugar de momento, e cada momento exige de nós a iniciativa de repensar para recriar.

Depois de milênios imaginando o impossível e dando forma à todas essas ideias que surgiram “do nada”, parece que a nossa imaginação não é mais como antes. O que temos são desdobramentos do que já existe. E nos adaptamos a pensar a vida a partir deste ponto, como se o ponto de partida não fosse apenas mais uma ficção.

Todos os dias nós aceitamos verdades absolutas sem questionar de onde elas vieram e para que existem. Vivemos um período de total falência de questões políticas e não nos rendemos mais a imaginação, aceitamos a frustração como impossibilidade de mudar as coisas. E quando pensamos em mudança, falamos de troca. Como se a questão fosse uma peça com defeito dentro da mesma estrutura.

Não questionamos mais a estrutura, esquecemos que a possibilidade de acreditar no que ainda não existe foi o nosso maior passo. Estamos com medo, e o medo paralisa. Temos medo de não ter dinheiro, e esquecemos que o dinheiro é apenas uma das maiores ficções de todos os tempos. É isso, o dinheiro também foi inventado. Houve um tempo em que nos viramos sem ele. Mas tantas coisas foram sendo imaginadas e colocadas à venda e quando até o que já existia foi ganhando preço, nós esquecemos que o dinheiro não é um direito divino nem uma necessidade intrínseca.

Quem tem não abrirá mão, quem não tem, está tentando ter, pelo menos algum que pague as contas e faça as compras. E é por ele que nos dividimos, nos trancamos em casa, apertamos o passo na rua e disputamos os espaços. Quem tem sobrando, não pensa em dividir ou parar. Vai em frente por ele. Quem não tem, quando tem, não pode guardar. Segue como pode.

O dinheiro colocou preço na terra, e criou um mundo onde existem mais casas vazias do que pessoas sem casas. Mas achamos natural, o que a gente imagina hoje é que sempre foi assim, ou seja, a gente não imagina mais nada. A gente aceita o que nos favorece. Alguns não. Eu não. Eu imagino um mundo onde as relações humanas são medidas pela solidariedade. Onde não é razoável que pessoas morram de fome por não ter dinheiro. Onde não é natural que os remédios sejam só para quem pode pagar e eu, assim como nós, não estou imaginando nada novo. Há muito tempo atrás, quando o mundo era só um lugar sem coisas à venda, foi na união que nos protegemos e sobrevivemos.

Chegamos até aqui. Não é possível que não possamos ir além porque um dia alguém teve essa ideia de etiquetar o mundo com valores monetários que nos impedem de pensar que a história não termina na nossa casa, que o final feliz que a gente precisa, não tem preço. Pode reparar, o que te faz feliz de verdade custou alguma coisa? O mundo está acabando, você pode guardar no seu coração duas lembranças de algo que te acompanhe na eternidade.

O que vai com você? O seu carro, a sua casa, a conta bancária, ou os amores da sua vida? Quando você protege a ficção do dinheiro acima de tudo, e determina que a vida está definida por essa régua financeira, você abre mão do seu final feliz. Do nosso final feliz.

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Wanderson Nogueira

Observatório

Jornalista, cronista, comentarista esportivo, já foi vereador e agora é deputado. Ufa! Com um currículo louvável, o vascaíno Wanderson Nogueira atua com garra no time de A VOZ DA SERRA em Observatório, sua coluna diária.

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