Dividir para conquistar

sábado, 29 de setembro de 2018


Pelos próximos meses, a jornalista Laiane Tavares assina a coluna no lugar do titular Wanderson Nogueira. A Justiça Eleitoral determina que candidatos nas Eleições 2018 não podem apresentar, participar ou dar nome a programas de rádio e TV. A regra não se aplica aos órgãos impressos. Mesmo assim, o colunista e A VOZ DA SERRA, em comum acordo, optaram pela alteração neste período. Wanderson Nogueira volta a assinar o Observatório em outubro, após o período eleitoral.

 

Na contagem regressiva pelo primeiro turno das eleições gerais, muitas relações já ficaram pelo caminho, e será difícil reconstruí-las, mas devemos tentar, ainda que pareça impossível, é preciso tentar. Foi assim em 2014, e agora parece ainda pior. Naquela eleição, os debates acalorados nos dividiam por visões de gestão, políticas públicas e direcionamento econômico do país, a base dos debates se desdobravam entorno de questões como estado maior ou menor, corrupção sistêmica ou partidária, e sim, esses temas descambavam em recortes pessoais de visões de mundos que naquele instante pareciam impossíveis de conciliar no âmbito das relações pessoais. Algumas amizades foram desfeitas, as comemorações em família começaram a ficar menos acolhedoras e de repente todo mundo que pensava diferente era um incômodo.  

Os anos seguintes intensificaram a polarização, teve golpe e teve impeachment, como foi para você vai depender de qual é o seu lado ou do quanto você consegue deixar de lado a emoção e analisar o processo com a razão, consciente do que aquele momento significou para a história da nossa frágil e recente democracia. A confusão generalizada, os telejornais intensificando a visibilidade do caos, a economia fragilizada, o desemprego em alta, a qualidade de vida em queda em todos os aspectos, políticos sendo presos, decisões judiciais contraditórias, escândalos e mais escândalos, o brasileiro sufocou.

Há um nó na garganta e um aperto no peito de cada um de nós. Alguns se apegam às suas ideologias e visões políticas para seguir em busca da saída, se encaixam neste contexto brasileiros e brasileiras de esquerda e direita, mas a verdade é que a grande massa nacional nunca foi uma coisa nem outra, são apenas pessoas que fazem sua parte e querem que o governo faça a dele.

Aos poucos, no entanto, muitos dos que antes se importavam com o concreto, foram sendo cooptados por um discurso simplista que reduz problemas complexos à falta de vontade, milhões de pessoas no Brasil foram convencidas de que estão por conta própria e que por isso precisam de acesso a todos os instrumentos de “defesa”. Foram condicionadas a ter medo de as coisas piorarem cada vez mais, e impossibilitadas de resolverem por conta própria os problemas dos serviços públicos, se voltaram para suas casas, e acreditam que a família está em risco também, não é difícil acreditar que tudo pode desmoronar quando você assiste na TV um país desmoronando.

É neste ponto, onde existe a certeza do caos e a sensação de incapacidade, que tanta gente clama por um salvador, e esses salvadores sempre chegam dizendo que o problema são os outros, e que esses outros serão silenciados por ele e que o resto é ainda mais fácil de resolver. E a partir de então, poucos ainda querem saber se vai resolver mesmo, o fato é que tem alguém na TV com tanta raiva quanto você, e que chuta a porta que você não pode chutar, fala o que quer, quando você precisa medir as palavras, bota dedo na cara de todo mundo e não entende de economia mas você também não, e mesmo assim consegue pagar as contas, esse alguém ainda vai ter um outro alguém para lidar só com isso, vai ficar tudo bem, não é?

Não, não vai ficar tudo bem. O Brasil é um problemão com o maior potencial de solução, mas não vai ser fácil, não vai ser simples. Não vai acontecer se estivermos mais preocupados com o nosso vizinho do que com o chefe da Casa Civil. Dividir para conquistar é uma das estratégias de dominação mais antigas da humanidade. Então, esteja você de qual for o lado, tente se reconectar com o diferente, a pessoa mais diferente de você, com as visões mais distintas e as escolhas mais antagônicas, ainda é alguém que só gostaria que estivesse tudo bem. 

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Wanderson Nogueira

Observatório

Jornalista, cronista, comentarista esportivo, já foi vereador e agora é deputado. Ufa! Com um currículo louvável, o vascaíno Wanderson Nogueira atua com garra no time de A VOZ DA SERRA em Observatório, sua coluna diária.

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