Deixa a história se inventar...

sábado, 29 de outubro de 2016

Deixa a história se escrever por si só. Aprendi isso depois de muito tempo. Após muitos desperdícios e acúmulos de expectativas e frustrações. Sempre soube que a expectativa é a mãe da frustração, mas a sapiência nem sempre nos concede a sabedoria da prática. É após, só depois de muitos tropeços é que a gente aprende de verdade e coloca na vida as vivências. Deixa de voar para andar e se as asas aparecerem de repente, simplesmente voa e deixa o voo ser o que tem que ser.

Deixa a história se inventar... Escrever as linhas como o tempo quiser. Sem as ameaças de invasão ou as estratégias que se aplicam aos jogos de tabuleiro, mas não aos ponteiros do relógio. Esses são velozes quando queremos que sejam lentos e são lerdos quando queremos que se acelerem. O tempo é um moleque difícil de domar. Não recebe ordens, nem interpretações do contrato que fomos obrigados a assinar quando concebidos.

Deixa a história se compor e pegar emprestada as músicas e poemas que o vento trouxer. Tem vontade própria a sua trilha. Tem contexto próprio a sua poesia. Não que eu não vá mergulhar. Ah, mergulho! Mas antes quero, ainda que intenso, descobrir se é profundo ou raso. Rachar a cuca não é meu temor. Mas despedaçar meu coração...

Deixa a história se contar, ainda que eu esteja vendo de forma simultânea a escrita da realidade. Sendo um pouco personagem, mas também autor de meu próprio personagem. O entusiasmo é parceiro e parei com a compreensão de sua similaridade com ansiedade. Entusiasmo e ansiedade não precisam ser parceiros. Cada um no seu canto, com suas benesses e perigos. Se for necessário juntá-los, a história faz isso por mim. 

Deixa a história entrar na biografia. Poderá ser apenas algumas linhas dela. Poderá ser muitas linhas, capítulo ou capítulos. Prateleira inteira na biblioteca? Não tenho o dom da vidência, ainda que confie na minha intuição. E, minha intuição diz para se divertir vendo a história se escrever. O que virá? Está leve viver e observar.

Deixo a história correr solta, tão livre quanto a minha imaginação. Mas não traduzo a minha imaginação em fatos. Às vezes, a própria história se apropria daquilo que guardo. Outras vezes faz melhor do que a minha imaginação. Está bom isso de deixar o vento soprar e o tempo revelar. Quando essa história terminar, se terminar, terei tido o peito florido pelo simples prazer de deixar acontecer, de permitir as cores entrarem nas pétalas das flores de meu canteiro. 

Deixa a história se fazer, claro que não deixando de torcer. Quem sabe o técnico destino não me ouve. Mas sem a angústia de quem é obrigado a acertar. Aceito de bom grado o que a história está me dando, pela linda possibilidade de estar vivendo. Sem se antecipar, sem cobrar nada ou pagar para ver. 

Estou aqui, encontrando sem buscar, mas vicejando felicidade sem ousar dar sentido ao que é ser feliz. Por agora, meu sorriso está largo e acho que meus olhos estão brilhando. Não tenho planos para além da concordância em deixar a história cumprir seu plano. Venha o que vier!   

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Wanderson Nogueira

Wanderson Nogueira

Observatório

Jornalista, cronista, comentarista esportivo, já foi vereador e agora é deputado. Ufa! Com um currículo louvável, o vascaíno Wanderson Nogueira atua com garra no time de A VOZ DA SERRA em Observatório, sua coluna diária.

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