De mim só você

domingo, 10 de maio de 2015

Coração divaga, devagar, no seio do seu protetor. Acalma a vigília na paz do cuidado que recebe e acena vigor. Cena linda recebe poesia quando se deixa encantar — encantador.

Encena a cena que importa e transporta o texto que decorou. Decora a sala de quadros circulares pela luz que rompe a janela — cobertor. Cobre o rosto sem tapar a cara e faz cara de quem abandonado nunca abandonou. Há quem podemos enganar? Quem ousou? Quem trapaceou? Trapaceiro é o amor. Ousado é quem amou.

Ah! Coração! Aprende a desapegar, mas não para se apegar de novo. Adora, ascende, acende chama no céu do seu vingador. Materializa o que sente, dissidente do seu mentor. Se insano é perdoar, infamo é não se perdoar. Perdura, pois o que sente. Pendura, pois o que se mente. O tempo é distração de quem deixou a atenção de lado para se colocar dentro, com coragem de lutar. Vencer ou perder é apenas um detalhe que nunca resume a história. Espera pode ser falta de percepção... O infinito é tão distante. Onde, afinal, acaba o horizonte do universo?

A avenida está vazia como em madrugada fria. Mas na calçada, o vendedor de cachorro-quente guarda o pão que ainda servirá amanhã. Outro dia talvez se vendam rosas entre as duas e seis da manhã. Pão dormido é travesseiro de quem descansa só. Quem espera a lua ir embora pode ficar mais um pouquinho para observar o sol. A cama é alta — eu não alcanço o chão. O pão fresco é mais saboroso ainda se esquentado na chapa com manteiga. Tomate nunca foi legume. Café jamais embriagou alguém. A lua sempre encontrará o sol. Amará? 

A cidade é uma prisão tanto quanto o quarto. Mas a alma dispersa desperta quando canta o coração. De repente, percebe-se vivo e vívido com o impacto de se ver num certo olhar. Fortalece a recusa à escuridão.

A ameaça de ser feliz nunca amordaçará. Liberta. Teme quem te ama a si próprio de si mesmo. Diz o poeta: “Vingue-se de quem te ama amando-o também”. A pergunta insiste em se fazer questão: e se quem eu amo não quer se vingar de mim? Provoca!

Deixa a paixão devorar-te voraz e feroz. Nasce aí a poesia, o poeta e a canção. Surge daí o drama, a novela e o filme. Advém da vida, no entanto, todos e tudo. Iminente é o inesquecível que surge no depois, ainda que nem tudo necessite de consequência. A consequência de amar deveria ser sempre o amor.

A bebida é sempre desculpa para as besteiras que a gente faz. A certeza é sempre argumento de quem teima. Insiste, pois, em ser feliz. Desiste, pois, de ser triste — aprende sem se arrepender, convence sem querer arder. Adora o céu da boca que te beija e procura o tal olhar que te incendeia. Louva, cultua, devora... Disfarça nada para entender. Compreender não pode ser só desculpa de herói que prefere o altruísmo a sua vontade suprema de não ser solitário.

O que quer de mim? De mim só você... 

O que quer de mim? Ainda pergunta?

De mim só você... 

TAGS:
Wanderson Nogueira

Wanderson Nogueira

Observatório

Jornalista, cronista, comentarista esportivo, já foi vereador e agora é deputado. Ufa! Com um currículo louvável, o vascaíno Wanderson Nogueira atua com garra no time de A VOZ DA SERRA em Observatório, sua coluna diária.

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.