Colunas
De arrebatar
Tenho uma natureza inquietante. De festa. De fogo. De ar que impulsiona esse fogo que quer sempre pulsar. Sou de riso. Sou de sentido. Sou de canto desses que não aceitam ficar no canto da sala. E minha voz dança, enquanto meu corpo quer flutuar no som de sua palpitação. Conspira. Respira. Respinga o universo chuva de estrelas sobre minha cabeça que sonha sonhos de futuro vividos no presente de nós dois.
Tão leve, recuso compromisso com as dúvidas que me visitam. Existem. Reconheço-as. Mas recuso os conselhos que me fazem e vou intrépido, certo e animado por essa leveza que alimenta meu espírito nessa intimidade firmada pelo sobrenatural - me abençoa, nos divina. E, se a saudade se abate pelas horas de meu dia ainda sorrio ao se fazer visível a sua imagem. Minha garganta é induzida a cantarolar lá-lá-lá e me vejo cantando e sorrindo, sorrindo e cantando. Diagnosticam-me com paixão aguda e meus olhos admitem enquanto faço silêncio. O mesmo silêncio me entrega. Entregue, deixo-me ir nesse infinito de um segundo que se transporta para outro segundo, minuto e hora... Está sendo e se será é sonho de agora se prolongando para amanhã.
Estou feliz! Tão feliz ao ponto de pedir que o tempo desacelere. Mas quando estou ali, naquela boca, o tempo deixa de existir. Quando estou naquele abraço, as multidões ao redor aplaudem e dispenso a timidez. Quando minhas mãos estão naquelas mãos, o mundo gira sem precisar de física para girar. Quando meus olhos estão naquela voz, a paz me arrepia a alma. Pleno. Experimento a plenitude que só lia em livros de romance. Reconheço a leveza, mesmo com toda incerteza natural de todo amor.
Medo e coragem existem, mas sem esforço, é possível conter os exageros dos extremos que fazem paralisar ou ser inconsequente. Felicidade. Livre para ser firme no caminhar dessa estrada que não se sabe bem onde vai dar. Mais importante que o destino é assim o caminhar. Encontrar o que procura sem procurar. Aceitar esse sorriso bobo que bem-vindo invade. Pode olhar que o sol desperta na noite dos apaixonados. Perceber para florescer no peito esse canteiro colorido de tantas alegrias. Guarda esse sentimento para voar. Aprender faz agora acontecer. Enquanto durar - sagrar esse afastamento da distância que nunca existiu. Pode sentir?
Luzes se acendem no céu de nossos afetos. Ganha música o verso daquele poema que não rima. Sai da caverna que esse coração se abriga. Aqui fora é tão lindo! Se se assusta, está segura sua mão. Essa confusão é combustão que alerta: há vida! Vamos viver, pois o amor oferta mais do que significado à vida. Descobrir esse único! Nada a desvendar para além do que se sente. Só peço para deixar eu descobrir além da compreensão e compreende. Nada é tolo, nada se julga, tudo se pode, não há o que temer.
O sentimento floresce como um ipê amarelo antes da primavera. Suas flores voando ao vento dos sabores que instigam me fazem ouvir as músicas de amor e achar que todas elas foram feitas para nós e inspiradas nesse encontro solto, desamarrado, encantado de realidade. Aí, você vem, sem que eu precise chamar. E eu peço com olhos de quem deseja para que faça o que quiser e que o que queira é ficar. Estar para atravessar comigo esse espaço em que o tempo é solidário e passa devagar. Ser para flutuar comigo nessas descobertas de quem já teve receio e agora apenas sente e na emoção cuida.
Essa intimidade de quem não precisa beijar para ter. Esse entrar profundo de quem não precisa ter pele e corpo penetrados para saber que um é outro e dois são um. Enfim, juntos nessa loucura que é o mundo, mas ameno por ser o nosso mundo. O que for para ser será, mas o que está aqui agora é de arrebatar.
Wanderson Nogueira
Observatório
Jornalista, cronista, comentarista esportivo, já foi vereador e agora é deputado. Ufa! Com um currículo louvável, o vascaíno Wanderson Nogueira atua com garra no time de A VOZ DA SERRA em Observatório, sua coluna diária.
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