Completo

sexta-feira, 01 de julho de 2016

É só atravessar a rua para ser completo. Às vezes, se sentir assim é mais simples e fácil do que todas as possíveis suposições anteriores. Os segundos nos surpreendem por mais que imaginemos todos os tipos de coisas. Mas acontecem...

E é tão natural quanto lógico. E é mágico poder ver além da vitrine. É só atravessar a rua para re-descobrir que minha alma vê e meu coração pulsa. Um sossego cheio de paz advém de onde vejo e quando algo novo ocorre nesse instante o que há dentro de mim flutua. Isso é possível e eu não presumia.

Sem conhecer, não me interessa saber nada além daquilo que respiro até dobrar a esquina. Com o perfume misterioso sigo meio que embriagado, mas sóbrio como nunca. A atmosfera conspira a meu favor num fluir e confluir em que não procuro nada, pois tudo que preciso está achado, ali, antes da esquina, do outro lado da rua. Há poucos passos, mínimos metros, tão perto.

É um endereço inexato, mas tão real que nele as horas se encontram e se encantam e dançam... Rodopiam nos paralelos de estrelas. Gargalham como se os risos pra lá de dispostos produzissem som tão arrebatador como de uma linda sinfonia. Veloz, na velocidade da luz, correm por correr e não por pressa de chegar a algum lugar. Afinal, o lugar é do outro lado da rua!

Calço um cometa e voo abraçado ao novo verso que meu subconsciente evapora. Quando o quando deixa de ser temporal e o agora elimina a preocupação com o amanhã o que se tem, mais do que segurança, é realização.    Realização tamanha que se a despedida se antecipasse a todo o por vir, ainda sim, ficaria pleno de satisfação para sempre. Mas o para sempre me acompanha, acho que gosta deste momento em que atravesso a rua para ser completo.

Viro a esquina à espera que a esquina se desdobre, mas se a rua se alonga e vem ao meu encontro, então a certeza me cerca. É assim que as coisas acontecem, natural e instintivamente. A rua me busca e a vitrine se abre. E incompleto paro para completo seguir. Como Chaplin com seu chapéu e guarda-sol. Como Gandhi com sua bata e benevolência.   

Ser completo é ter a sensação de que não lhe falta nada, absolutamente nada. Com si traz uma paz que faz o firmamento bem aqui. O vazio esvai e a inocência volta como quando se vê a luz daqui pela primeira vez. Ser completo é não se preocupar com mais nada a não ser o que te tornou assim.

Mas para ser completo não pode faltar nenhuma letra do alfabeto e nenhum mapa no hemisfério. Mas na vitrine, a bússola me sorri com o “k” esquecido que me acena mesmo estando eu do outro lado da rua. Mas atravesso para ser completo. E assim tudo acontece.

E assim o todo se resume no tudo que posso ser nesse instante estendido na linha do tempo que só acaba no para sempre. Atravesso a rua, viro a esquina à espera que a esquina se desdobre, mas se a rua se alonga então tudo acontece. Melhor do que sonhei e mais inusitado do que previ.          

Sem atropelar a história para que o fim possa ser revelado, completo já não procuro nada além do que já encontrei, porque sei que enquanto houver meio, o fim pouco importa. 

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Wanderson Nogueira

Wanderson Nogueira

Observatório

Jornalista, cronista, comentarista esportivo, já foi vereador e agora é deputado. Ufa! Com um currículo louvável, o vascaíno Wanderson Nogueira atua com garra no time de A VOZ DA SERRA em Observatório, sua coluna diária.

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