Chegou notificação!

No meio de uma conversa, na reunião, caminhando. Quando chega uma notificação no celular, imediatamente nos transportamos para um ‘não lugar’. Estamos sempre à disposição para interromper nossas interações diretas e dar aquela olhadinha na mensagem que chega.

A aflição de saber que tem uma nova mensagem, corta todo o andamento de um momento. Somos atravessados constantemente pela possibilidade de uma outra interação. Quase sempre, não é nada. Poderíamos esperar, terminar uma conversa olho no olho, ficar mais atentos ao que vivemos, mas quando recebemos uma notificação, uma sensação de que estamos perdendo algo transborda.

É só uma olhadinha, provavelmente não vamos responder imediatamente, nem curtir, comentar ou compartilhar. Possivelmente vai ser uma besteira, se for urgente, vão ligar, essa é a lógica, ou era. Mas somos cada vez mais incapazes de evitar esse ‘não lugar’ para onde nos transportamos toda vez que chega uma notificação.

Enquanto escrevo essa coluna, meu celular apita, pelo som identifiquei de onde vem as mensagens. O WhatsApp está movimentado, o Messenger também, e alguém deve ter comentado em alguma das minhas publicações no Facebook. As notificações partiram dessas redes sociais. Mas até o fim dessas linhas, permanecerei com vocês.

Tenho tentado permanecer mais onde estou, nada é mais urgente do que viver o instante que nos foge a cada novo segundo. As mensagens ainda estarão lá, mas as conversas não serão mais as mesmas se você pedir para que repitam algo porque perdeu o fio da meada enquanto olhava o celular rapidinho. Andar pelas ruas de cabeça baixa, vidrados na tela do mobile nos rouba tanto, passamos pelos lugares sem a possibilidade de entendê-los, de reconhecer suas possibilidades, passamos por onde estamos sem estar.

Tudo isso não nos faz bem, especialistas alertam sobre os problemas gerados à saúde física e mental, mas onde eu li sobre isso? No celular, durante um almoço, fazendo o que tento evitar, cortando o momento para viver online, desligando a vida real toda vez que chega uma notificação.  

Mas eu continuo tentando. Não exige grande esforço, em alguns dias a vida real vence, em outros, me rendo ao nosso surto coletivo de urgências irreais geradas por essas notificações que nos tiram de lugares necessários e não nos levam há nenhum outro. Esse ‘não lugar’ para onde nos transportamos nos atrai pela proposta de ser um mundo de possibilidades sem fim para a interação... só que com a tela.

Sobre as mensagens que tentaram interromper o texto, não eram nada que mereçam uma frase. Algumas nem eram frases. E só porque parece que essa história precisa de um fim, terminamos assim: tudo pode ser percebido como urgente e fundamental quando faz barulho, mas nem tudo que grita merece nossa atenção, seja online ou offline.