Chape de sonhos que não terminam

quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Choramos por quem não conhecíamos, mas que pareciam fazer parte da gente. Choramos por quem conhecíamos e mesmo que não fossem tão próximos é como se fossem da família. Choramos porque nos vemos neles. Choramos porque nos reconhecemos na nossa mais pura fragilidade. Choramos porque a vida nos ensina com a morte, ainda que eles tenham nos ensinado vivendo.

O futebol é a melhor metáfora da vida. Essa máxima, que li em algum livro enquanto fazia a minha monografia do curso de jornalismo, se tornou uma verdade para mim. Porque nela há muita realidade. O futebol é capaz de despertar as mais intensas rivalidades, mas também é capaz de fazer surgir as maiores grandezas da humanidade. Solidária, emotiva, disposta, sensível, apaixonada e que se deixa se envolver pela união.

E nos vemos nesse absurdo que é viver. Nessa vida que é um sopro, mas que pode ser também um sonho contínuo. Nos prega peças, nos planta perguntas e na busca por respostas nos empresta as soluções. No caminhar, mais do que propriamente quando de fato encontramos as respostas.

No absurdo há milagres. No absurdo há ensinamentos profundos. O absurdo nos faz repensar. Banalidades não podem valer o nosso tempo. Soberba, egoísmo, rancor e ódio não podem ser companheiros da nossa jornada. O quanto somos pequenos, delicados.

Mas quão grandes podem ser os nossos sonhos. São os sonhos que muitas das vezes nos perpetuam. Para todos como coletivo, ficam múltiplas lições. Que não precisemos de impactos chocantes e comoventes para nos revermos como humanidade e como parte dela! Que não precisemos de fatos doídos para recuperarmos nossa solidariedade, nosso espírito de compaixão.

Por isso mesmo, por tudo isso, histórias interrompidas não encerram a história. Porque há certos filmes que terminam no ápice e recebem o título de o sonho não acabou. O sonho não acaba quando serve para alertar a todos: a vida está aí e é preciso pegá-la e fazer algo de positivo com ela no tempo que se tem, sem saber jamais quanto de tempo de fato se terá.

Há quem não canse de subir que acaba chegando ao céu. Talvez esse seja o maior ensinamento dessa tragédia que abala mais do que um clube de futebol, mais todo o futebol; que abala mais do que uma cidade, mais todo um país, continente e países mundo a fora; que abala mais do que quem gosta de esporte, mas a todos conscientes de sua finitude.

E, não dá para passar indiferente. O chocante gera catarse. Quando você percebe que é um time que representa uma cidade, você logo pensará na sua cidade e no time que a representa. Pensará no seu time de coração. Pensará em filhos e pais. Se verá como jornalista que faz cobertura de uma história mágica e se sente como parte dela, pois alguém tem que contar a história.

Se perceberá como qualquer um daqueles que lá estavam e saberá que a vida é imprevisível e deve ser vivida e compartilhada sem medo, sem receios de sonhar, fazendo o que tem que ser feito que é, acima de tudo, se fazer e fazer feliz a quem se ama!

Além das fileiras sábias de clichês, faz fila também os se. Se isso tivesse acontecido? Se aquilo não tivesse sido assim? Se não tivesse esquecido o passaporte? Se tivesse atrasado? Se tivesse escolhido outro avião? Se o Danilo não tivesse feito aquela defesa nos acréscimos das semifinais?

Se o goleiro Danilo soubesse o fim da história, ainda assim ele faria convictamente aquela defesa. Se eles soubessem que subir tanto e tão rapidamente os levariam ao céu, ainda assim prosseguiriam na trajetória de serem campeões! E ser campeão, necessariamente, não exige que se levante a taça. Não há pódio mais alto que o céu ou imortalidade melhor do que a de sonhos que não terminam.

O verde é esperança, é Chapecoense! Todos são Chapecó. Todos vestem, cantam, se emocionam como Chapecoenses. Porque histórias com a da Chape encantam. Pois trajetórias meteóricas assim deixam verdadeiros legados de inspiração. Se despedem como campeões... Permanecem. Deixam a cada um de nós uma diferente lição. Qual para você?    

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Wanderson Nogueira

Wanderson Nogueira

Observatório

Jornalista, cronista, comentarista esportivo, já foi vereador e agora é deputado. Ufa! Com um currículo louvável, o vascaíno Wanderson Nogueira atua com garra no time de A VOZ DA SERRA em Observatório, sua coluna diária.

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