Celebrar a vida para fabricar saudades

quinta-feira, 02 de novembro de 2017

Hoje é dia

  • de Finados

O dia

Em 2 de novembro de 2003, a Igreja Episcopal nos Estados Unidos consagrou o seu primeiro bispo homossexual. Gene Robinson, que era divorciado e tinha dois filhos, vivia, naquela ocasião, há 13 anos com um companheiro.

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Palavreando

Sentir falta de alguém não é algo que passa. O tempo apenas aquieta essa necessidade. E é nos momentos de silêncio que mais sentimos.

Celebrar a vida para fabricar saudades

Hoje, 2, é dia de finados. Dia de lembrar os mortos para afirmar a vida. Na verdade, é apenas uma data que o calendário separa para que recordemos daqueles que nos deixaram. É clichê, mas é oportuno: uma pessoa só morre quando ninguém mais se lembra dela. Assim, muitas pessoas permanecerão por muito tempo aqui e possivelmente atravessando gerações.

Sinto saudades de tantas pessoas. Todos nós sentimos saudades, cada um na sua dor e no seu jeito próprio de encarar a despedida e relembrar aquele rosto, aquela voz, aqueles momentos tão únicos, geralmente muito simples, mas que costuram a nossa biografia. Quando uma biografia escreve a outra biografia não dá para ser indiferente.

Nessas horas de pensar em quem já não empresta mais o sorriso nesse tempo-espaço, é que me apego ao trecho de uma canção que diz que só tem saudade quem um dia amou!

Tenho saudade de tanta gente e meu peito se reconhece no amor que tive e tenho. Pois, não é porque uma pessoa se foi que o amor se encerra. E Renato Russo tem razão: é preciso amar as pessoas como se não tivesse amanhã. Então, recordar e reconhecer o amor por quem se foi, mas também fabricar agora as tais saudades futuras com quem ainda está aqui a nos emprestar sorrisos.

Como se fabrica saudades futuras? Saudades futuras são produzidas na convivência diária, no cotidiano mesmo, nesses momentos de muita simplicidade que geram histórias que se pudéssemos provocaríamos repetição. Saudades futuras nascem sem longos planejamentos e só ocorrem se cada momento é realmente compartilhado. Saudades futuras são fabricadas nas surpresas, nas festas e até no trabalho. E é importante que se saiba: a saudade advém das pessoas, do outro. Por seus atos, pelos instantes que dividem com a gente ou pelo fato único de estarem ali conosco testemunhando e construindo a nossa história. Fabricar saudade nunca é um trabalho solitário. É um compromisso de toda relação.

Sentir saudade, portanto, é da nossa natureza e é da nossa natureza fabricar saudade ainda que em determinados momentos futuros ele possa soar como sofrimento. Terei e tenho saudades de muitas pessoas. Admitir isso é a mais humana das coisas. 

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Wanderson Nogueira

Wanderson Nogueira

Observatório

Jornalista, cronista, comentarista esportivo, já foi vereador e agora é deputado. Ufa! Com um currículo louvável, o vascaíno Wanderson Nogueira atua com garra no time de A VOZ DA SERRA em Observatório, sua coluna diária.

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