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Cadê a sua leveza, Brasil?
Cadê a sua leveza, Brasil? Se é que um dia você teve. É! Está bruto. Tanto quanto lhe faltou leveza com os negros que te construíram ou com os índios que te protegeram. Desembrutece e cresce, pois é um jovem imaturo de mais de 500 anos. Seu ouro já foi roubado, seu nióbio também será! E sua alma, o que diz? Filhos teus fogem à luta e vendem a si e a ti mesmo.
Abaixa suas armas, Brasil! Porque armas só tem um objetivo: matar. Quando não matam, ferem com a certeza de cicatriz. Suas cicatrizes sangram como nunca e seu medo da autocrítica te sugere psicopata. Não é gigante pela própria natureza, mas não esquece que se lembrar pode não te fazer maior, mas no mínimo melhor.
Ah, Brasil. Revisita sua história para expurgar seus demônios. Reconhece seus heróis para fracassar seus tiranos. Enxerga no seu povo a si mesmo e se transforma. Coragem para se olhar no espelho, sem a busca por verdades absolutas, mas persegue sua identidade para mantê-la ou evoluí-la. Mas percebe quem está sendo. O cego que pode enxergar é o mesmo que ao tato prefere não sentir. Quem não sabe o que é ou o que quer não está apto a bancar suas escolhas.
Abocanha suas desigualdades para vomitá-las e jamais engoli-las de volta. Cospe sua saliva de conformismo. Inspira o ar de quem vai sem medo. Enxuga seu suor de quem vem sendo maltratado e não se engane: quem te oprime, sabe o que faz e o faz deliberadamente.
Cadê a sua leveza, Brasil? Foi engano se autoproclamar acolhedor. O carnaval já não te diverte. Caçoa de suas festas mais infantis. Se divide nos extremos e polemiza até suas alegrias. Caminha, mas não sai do lugar. O ódio nunca poderia ser o seu lugar. Serena para avançar e descobre, enfim, que a raiva não é sinônimo de luta para quem recusa o papel de opressor. Pare de se agredir. Seja mais gentil. Pense para agir e vai! Ser leve. Se leve, sem salvadores, pois o seu único salvador é você mesmo, Brasil! Paixões são boas quando suas emoções não te aprisionam bobo, quando suas vibrações não te dessecam tolo.
Deus não é brasileiro. Não na fé que te confunde e te faz cambaleante. Você pode falar diretamente com Deus. A sua bandeira verde e amarela é de todos os brasileiros. Suas fronteiras não podem ser abismos que nos afundam. Os que te sugam não são seus donos, ainda que se alimentem de suas vísceras. Mas sua alma é intacta e sua vida é seu povo. Mas quem são os brasileiros? Aos que te fazem precisam entender o que fazem, e, que o passo de cada um é o seu caminhar. Aos que te julgam precisam saber que se autodeclaram réus e como tais também podem ser condenados.
O Brasil já não é mais o mesmo, mas nem sei quem o Brasil foi ontem. Talvez sempre tenha sido bruto. Talvez sempre tenha sido roubado. Sua leveza pode ser pesada. Sua identidade indecifrável. Cresce. Apenas cresce, menino quingentésimo! Suas três pernas até suportam seu corpo, no entanto, não te fazem andar mais veloz ainda que deveriam fazer com que soubesse melhor por onde anda e para onde vai.
Wanderson Nogueira
Observatório
Jornalista, cronista, comentarista esportivo, já foi vereador e agora é deputado. Ufa! Com um currículo louvável, o vascaíno Wanderson Nogueira atua com garra no time de A VOZ DA SERRA em Observatório, sua coluna diária.
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