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Caçadores de novidades
Fugimos daquilo que conhecemos e caçamos quase que freneticamente a novidade. Precisamos, clamamos, queremos e ansiamos pela tal novidade que transforme os nossos dias numa vida mais prazerosa, numa história melhor.
Almejamos tanto uma ou umas novidades que sequer percebemos que o que é velho já foi novo... Um novo que seguiu em frente debaixo dos nossos braços, afagado por nossos abraços ou esquecido nos nossos pés. Novidades que não caducam, mas que perdemos ao rebaixá-las ao despercebimento.
A novidade. A encantadora novidade que é até mais divertida ou emocionante quando se pede por ela ou se conquista do que quando é alcançada e degustada.
Não dá para viver uma vida inteira dessas grandes novidades que nos acorrentam, nos arrasam, entorpecem... Essas magníficas novidades que nos dão olhos para descobrir formas e cores que não víamos ou conhecíamos antes.
E há tantas novidades espalhadas por aí, no nosso cotidiano, nas nossas horas comuns de cada dia. Mas não! Não queremos essas novidades tão fáceis, palpáveis e reais demais que nos acompanham ruas afora. Queremos a novidade das comédias românticas que duram pouco mais de noventa minutos ou das biografias que resumem em duzentas páginas a trajetória de vinte e tantos mil dias. Procuramos as novidades resumidas, esquecendo que elas são apenas os curtos destaques de uma vida. Mas pergunte se o biografado trocaria sua trajetória de tantos mil dias e tantas mil noites pelos destaques das dezenas de páginas? Pergunte a si mesmo. Você prefere ser um resumo ou um rascunho inacabado cheio de rasuras e marcas?
É uma tolice, ainda que seja deliciosa, a novidade do início e a novidade do fim. Não podemos ficar marcados apenas pelas nossas coleções de começos e fins. E o meio? O meio é o lugar em que realmente vivemos, atingimos o ápice do nosso autoconhecimento, em que de fato caminhamos por nós mesmos. Conquistar é mais fácil do que manter. Então, por que em vez de sermos meros caçadores de novidades não nos desafiamos a sermos mantedores das novidades que conquistamos?
Mas somos caçadores por essência, mais do que por natureza. Vestimo-nos de guerreiros que sempre almejam guerra. Guerras internas para se descobrir ainda que se inventem mais do que de fato se encontre consigo mesmo. Guerras por espaço, territórios que têm mais a ver com reconhecimento e júbilo do que com missão para com a alma. Ao caçar, acabamos caçados pelas nossas próprias ciladas. Não quero dizer que não temos que buscar... Mas a busca não faz sentido algum se não alimenta a alma e não compensa a eternidade.
Por isso, a novidade é mais um paradoxo do que propriamente a tal certeza que nos dará garantias. Nada é garantido, mas tudo tem um ponto de vista. O novo pode ser novidade, tanto quanto o que já é conhecido. As novas formas de ver uma mesma coisa são novidade, tanto quanto apreciar o que se sabe tão bem ao ponto de ser doutor na observação daquilo. A novidade é mais um sentimento do que um fato. Muitas vezes não é preciso caçá-la. Por vezes, a novidade vem ao seu encontro e você tem que estar preparado para recebê-la com braços abertos ou dispensá-la se não se encaixa bem ao seu abraço.
Todos nós merecemos a felicidade, tanto quanto fomos feitos para o bem. Mas cada um decide a forma de ver, ter e ser o que é. Assim a maior novidade de todas, que vem de longe, é a liberdade que temos em: ver da forma que queremos ver; ter o que queremos ter por desejo ou necessidade e ser do jeito que se quer ser, devorando novidades ou acreditando que elas existem aos montes em cada milésimo de segundo que respiramos.
Wanderson Nogueira
Observatório
Jornalista, cronista, comentarista esportivo, já foi vereador e agora é deputado. Ufa! Com um currículo louvável, o vascaíno Wanderson Nogueira atua com garra no time de A VOZ DA SERRA em Observatório, sua coluna diária.
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