Colunas
Bernardo & Mari
Vizinhos na foto como casas de passarinhos. Que passarinhos moram ali? Toc, toc, toc. São pessoas! Vizinhos no destino ainda que quilômetros de distância um do outro. Onde está você? Mas o destino ou seja lá o que for esse mistério que faz pessoas cruzarem caminhos é um ousado otimista. Pessoas? Não. “Passarinhos soltos a voar dispostos”.
E tão semelhantes têm asas. E tão parecidos têm alma jovem repleta de liberdade. E quase iguais - igualmente - amam o amor, ao ponto de se sentirem aptos a inventar seu próprio amor. Com clichês ou sem clichês. Semelhantes, parecidos, quase iguais, bastou dobrar uma esquina qualquer da colorida São Paulo para se encontrarem no espelho do olhar de cada um. Nunca foi um só. Sempre foram dois para nesse espelho do tempo serem um.
Magia esse tal de amor que também se evidencia na amizade que nos faz chamar o amigo de irmão. Olho para fotos que me remetem até para aqueles instantes que não foram fotografados. Essas memórias estão lá, como as aventuras num Escort vermelho - anos 90; como as músicas de bandas desconhecidas que conheci através de apurados ouvidos ou mesmo aquelas dos Los Hermanos; como os ataques do sr. Ernesto com seu martelo assassino em meio ao Eldorado na roda de samba; como as cocadas de uma saudosa avó trazendo boa sorte; como as calhas na Portugal ou os charutos galhos dos tantos churrascos em que melancia derrubava os desavisados.
Sei que o dia de hoje estará na memória pelas inúmeras fotos do celular ou as que estarão devidamente selecionadas no álbum do casamento. Mas mesmo esse evento do qual não faltarão imagens como testemunhas, haverá essas memórias afetivas das quais nenhum aparelho consegue capturar. Há fatos e emoções que só o coração pode captar.
O mais belo dos espíritos livres, além da sua natural poesia, é que às vezes eles livremente se prendem a alguém. “São passarinhos soltos a voar dispostos”. Dispostos a fazer músicas juntos. Dispostos a juntar trapos, amigos, famílias, artes, sonhos, conquistas, tempo. Passado, presente e futuro. Dispostos a dividir silêncios para multiplicar olhares. Dispostos, conscientemente, a dizer um para o outro: “sua vida não será em vão, porque estou aqui para testemunhar e escrever com você a sua biografia”
É homem e mulher? Não! São passarinhos encantados pelos voos da vida. Bernardo e Mari! Mari e Bernardo. Tão diferentes têm asas distintas que voam na mesma direção. E tão incomuns têm alma velha, dessas que voltam do início dos tempos para perguntar sem qualquer obrigação de obter respostas. E quase opostos - se opõem - mas revolucionários, amam o amor e odeiam tipificar o próprio amor.
O compromisso com a arte, impede se comprometer com verdades fechadas ao ponto que mesmo a matemática dos bits pode ser reinventada. Ser feliz não é pieguice. Diferentes, incomuns, opostos, bastou a grande cidade de multidões unir as suas mãos para se encantarem com o jeito um do outro. Na serra, no sul, em São Paulo ou no exterior, as mãos podem até se desconectar, mas nunca o coração. É! Não são pessoas. Os dois descobriram e nos ensinam que são mesmo passarinhos desses soltos a voar dispostos.
Wanderson Nogueira
Observatório
Jornalista, cronista, comentarista esportivo, já foi vereador e agora é deputado. Ufa! Com um currículo louvável, o vascaíno Wanderson Nogueira atua com garra no time de A VOZ DA SERRA em Observatório, sua coluna diária.
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