Até na sua ausência, você está

sábado, 23 de junho de 2018

Até na sua ausência, você está

Nas meias coloridas com desenhos esquisitos. Nas sandálias de dedo com estampas engraçadas debruçadas sobre os meus calçados. Nas camisas usadas para serem lavadas. Nas tantas roupas e utensílios têm o seu sorriso, travessuras e dramas. Porque sua presença se faz até na ausência que não falta no meu peito e que te chama baixinho gritando seu nome.

Nas poesias incompletas no bloco de notas do celular. Nas músicas que tocam no carro sem saber quem compôs. Nas frases pichadas nos muros com uma imitação baixa e rasa dos sentimentos alheios que até seriam nossos se eu olhasse só para a camada que nos protege de todo o mal. Nas palavras estão as suas frases que uso sem vergonha de admitir plágio. Porque sua querência se firma no querer que me quer entregue para se dar para receber apenas seu afeto.

Nas tantas mímicas das mãos que se dão e se desprendem. No milimétrico universo dos gestos que tanto falam e calam. No carrossel dos carros e no congestionamento das multidões nas calçadas. Nos olhares dispersos que ousam se encontrar e fogem do desencontro mesmo que se percam. Porque seu olhar me hipnotiza e me rega de mágica inefável.

No adormecer das estrelas que descansam acesas. No sono velado pelos meus travesseiros e lençóis. No amanhecer do trânsito lá fora que acorda cedo com o barulho que me faz despertar. Ao acordar, vejo o sol no retrato pendurado na parede e imito o seu sorriso para sorrir para mim mesmo. Porque faço recortes nas lembranças e no meu melhor resumo você é personagem e escritor da história inteira.

Na incerteza firmada pelo sobrenatural. Na busca pela comprovação que exige a ciência. Nos mistérios que nem a história ou a física explicam. Porque é exato o que sinto, é surreal o embaraço que vem no abraço que me dá e a bagunça que me faz na alma.

A sua presença em tudo está. Nas roupas e objetos. No abstrato e no concreto. No balé dos movimentos que regem a vida. Nas horas com seus minutos de cada dia. No milagre do divino que se materializa. Até na sua ausência, você está. Você me acompanha mesmo quando minhas mãos não estão entregues às suas. Mesmo na distância do mar para as mais altas montanhas. Passeia comigo pelos meus pensamentos e te carrego no olhar.

Se paro para pensar, meus olhos se inundam – alegres – do que me causa. E, caminho como efeito das suas provocações. Como se você fosse bateria, e, eu preciso da sua energia para funcionar. Como combustão e fogo. Como oxigênio e respiração. Como você e eu.

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Wanderson Nogueira

Wanderson Nogueira

Observatório

Jornalista, cronista, comentarista esportivo, já foi vereador e agora é deputado. Ufa! Com um currículo louvável, o vascaíno Wanderson Nogueira atua com garra no time de A VOZ DA SERRA em Observatório, sua coluna diária.

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