Amores se vestem na intimidade

sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Que saudade eu sinto dos meus amores. Daqueles que me carregaram no colo mesmo quando sequer olharam para mim. Amores que me deram as tais asas velozes que Michelângelo desenhou em seus versos. O céu é tão bonito. Sua imensidão é tão pequena que cabe no espaço de um abraço.

Amores de um dia que me motivaram. Amores de um minuto que me salvaram. Amores de uma vida inteira me são necessários. Tão necessários, mais que desejáveis, mas de desejos também.

Ao relembrar meus amores, vivê-los e revivê-los, percebo que o amor se estabelece no tempo, na convivência e na admiração. Mas o tempo começa de algum lugar e o amor também. Nem sempre, portanto, o amor é fruto do longo tempo.

O amor muitas das vezes se estabelece nos milésimos de um olhar. O amor nasce quando de repente se vê tocado pela simplicidade da realidade que se boceja ou da verdade mínima vestida pela admiração que concedemos. Por que concedemos? Não há necessidade de explicação. Invade. Tão bom ser tomado.

Assim, intimidade não tem a ver com tempo de convivência. Às vezes, a intimidade se estabelece mesmo sem trocar uma palavra sequer. Quando a intimidade surge, vinga também possibilidades incríveis de dançar, sorrir do nada, se divertir, ser completo, se emocionar... Entrar na aventura da vida e permanecer nela convidativo a compartilhar cada vez mais o tal voo de Michelângelo.

Às vezes, sinto falta da intimidade que tinha comigo mesmo. Mas recupero tal intimidade quando tenho intimidade com outro ser que me traz de volta a minha meninice descoberta depois de ser criança. A intensidade honesta de quem não precisa fingir o que não é, mas faz brisa no palco para se apresentar tal como é e tanto quanto quer ser.

Amores que me trazem alegria de viver me interessam. Porque me envolvem em plenitude, me cobrem de felicidade repleta que não se esvazia mesmo quando deixam o recinto, pois permanecem nos salões de minha alma e continuam a me encantar mesmo quando se tornam nostalgia. Aí, a saudade de meus amores é boa, tanto quanto facilitam o meu convencimento a preservar esses amores, buscar novos e batalhar por eles ao ponto de dividir com eles meu tempo e fazer de cada dia, dia especial.

Pureza que taxam de ingenuidade, mas que é beleza linda mesmo que devolve humanidade. Amor puro como pedra bruta que não recebeu nenhuma intervenção e se lapida pela admiração da intimidade que não se faz no tempo, mas na intensidade de um primeiro olhar que cuida do segundo até o último piscar.

"O amor é a asa veloz que Deus deu ao homem para que ele voe até o céu". O céu é tão bonito e voar é a mais magnífica experiência que se pode ter. Michelângelo continua tendo razão na sua poesia que copio, visto, vivo. A asa é o amor e a possibilidade é o vento da intimidade que nos carrega.

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Wanderson Nogueira

Wanderson Nogueira

Observatório

Jornalista, cronista, comentarista esportivo, já foi vereador e agora é deputado. Ufa! Com um currículo louvável, o vascaíno Wanderson Nogueira atua com garra no time de A VOZ DA SERRA em Observatório, sua coluna diária.

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