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Amores meus
Os meus amores são tão meus que os divido. Distribuo-os ao mundo em crônicas e poesias. Produtos das inspirações que me causam e das aspirações que me motivam. Meus amores são todos públicos, ainda que sejam nos sentimentos que carregam sem que necessariamente estejam com seus nomes revelados. São orações com sujeito oculto. São entregas que se entendem sem propriamente se entregarem mastigadas. Basta entender os fascínios para compreender o que e quem são.
Tenho muitos amores e ainda que volte para casa sozinho eles habitam meu coração, meu ser, meus minutos. O amor é o que revela a alma. O amor é o que facilita a tarefa de viver. Tira o tirano peso de que a vida é algo a ser cumprido e coloca a vida no patamar da leveza de ser passarinho.
Como passarinhos chamamos o vento para dançar e sem querer domar os passos, atentamos para as inúmeras belezas que tem grande poder de contagiar. Por isso, os amores meus são do mundo, porque com o mundo os divido. Que razão teria a existência do amor se não para compartilha-lo?
O amor vem para se multiplicar, não em si mesmo ou para si mesmo, mas de si mesmo em tantas outras situações e seres. Dele nascem todas essas frases e canções, histórias e biografias que nos remetem a uma atmosfera que está aí para ser vista, mas que requer certo engaje para perceber e sentir.
O amor é mais que esse arrepio que sobe pelos braços até a nuca. É carnal, mas é além. É essa falta que você sabe que está ali no peito, mas que vai além do mental. É o que dá essa saudade, apela às nostalgias e nos desliga do que é material para se conectar ao sobrenatural. Aquilo que existe, mas não sabemos bem explicar.
Quem pode afinal traduzir o amor? Shakespeare, Vinícius, Wilde e todos nós argumentamos sobre, mas traduzi-lo ou resumi-lo é impossível. Uma mãe, um namorado ou amigo podem até conceituar, mas ensinam melhor mostrando e mesmo sabendo o que é, não podem dizer com exatidão científica o que concebem.
O amor é a maior e melhor ação humana. O amor é o que nos une, os iguais e os opostos. Ainda que exclusivo de cada um e de cada relação, o amor é tão luminoso que não só ilumina o que está em volta, mas deixa de ser seu para ser meu e de todos. Assim, os amores meus são seus e de todos. Os amores seus são meus e de todos. Os amores de todos são meus, seus e de todos nós.
Dizem que o céu é o teto do mundo e o que nos faz morar na mesma casa. Já disse que somos herança e herdeiros das estrelas. O amor consegue não só concentrar todo esse céu no peito, como antecipa nosso destino de estrelas do cosmos aqui para a Terra. Faz a existência não só ser mais prazerosa como a torna mais gloriosa. O amor tem um poder que nem Einstein conseguiria codificar. Faz do gênio um tolo genial. Faz da gente um miúde gigantesco. É essa contradição que faz combustão nos dias e que ao voar torna uma besteira querer aterrissar.
Os meus amores não me permitem lucidez, não me deixam pousar, porém concedem a mim magnífica paz festeira que me dá equilíbrio e segurança. Faço então desenho nas nuvens estando entre elas. Dou nome às estrelas tocando-as.
Os amores meus ainda que me doem preocupações pertinentes a quem é auto intimado a cuidar e livremente cuida, me planta sorriso largo no rosto, brilho intenso nos olhos e asas na alma que não só ajudam a manter o voo, como inventam lápis mágico em meus dedos para continuar escrevendo feliz a minha história.
Se não fosse o amor... Tão incrível e pleno amor...
Wanderson Nogueira
Observatório
Jornalista, cronista, comentarista esportivo, já foi vereador e agora é deputado. Ufa! Com um currículo louvável, o vascaíno Wanderson Nogueira atua com garra no time de A VOZ DA SERRA em Observatório, sua coluna diária.
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