Acontecimentos

sábado, 09 de junho de 2018

Já quis entender de estrelas. Hoje apenas as vejo. Na plenitude de mim apenas as vejo. Pois não foi permitido ao homem o entender, porque entendendo se esquece de viver, entendendo acaba não vivendo. Mas o mais engraçado dessa graça que a vida faz com e da gente é que as coisas mais belas são aquelas que sentimos sem precisar ver, comprovar, relatar por extenso, documentar. Simplesmente não vemos e ainda sim sentimos. Como a imensidão que se esconde entre as estrelas. Melhor do que mergulhar numa calçada de estrelas é se afogar no infinito incomensurável da imensidão que se enfeita de estrelas. Parece exagero?

Nos enfeitamos de sonhos que desconsertam a realidade; de amores que colecionamos aos montes em cada passo; de fotos que paralisam momentos inesquecíveis e impossíveis de se repetir ainda que se ensaie; de dias que concedem o divino direito de ser feliz. São esses enfeites que nos diferenciam e nos definem. E indefinidos nos realizamos sem ser necessariamente realidade.

Escolhemos músicas que compõem esses acontecimentos. As músicas nos escolhem. As músicas nos encontram e vamos ao encontro delas. Cada situação tem um sentido e uma canção. Por isso existem tantas músicas e ainda sim, mesmo com todas as músicas do mundo, não são suficientes para preencher uma vida inteira...

Também há intervalos de silêncio e é no silêncio de conversas com a gente mesmo que nos aproximamos das grandes descobertas. Descobrimos que crescer junto é melhor do que padecer sozinho; que apesar do mar ser lindo são os passos na areia que chamam a atenção; que escolhas tem que ser feitas para se cumprir o destino; que essas escolhas são essenciais para se costurar a história que escrevemos; que dar as mãos requer entrega e vice-versa; que encontramos o que queremos de formas inesperadas e nem sempre na ordem desejada; que não dá para planejar tudo, certas coisas simplesmente fogem ao nosso controle; que o tempo apesar de ter uma cronologia não é uma ciência exata e que, por fim, as descobertas são mutáveis, se atropelam e nos atropelam se não aceitamos que descobertas se sobrepõem na nossa eterna jornada de se descobrir e redescobrir.

E iremos em frente ainda que não aja mais frente perante nossa visão limitada que não enxerga através de montanhas que nos circundam. Ainda que existam obstáculos, o horizonte ainda sim estará lá e o sol nascerá sempre. As estrelas estarão lá penduradas no céu... Quem disse que elas clamam por serem decifradas? A vida continuará debruçada esperando que você rebole para ela, mas nem sempre ela emitirá convites formais para que você a chame para dançar. Se enfeite de tudo e todos que se entregam a você por privilégio. Dispense os enfeites de piedade. Não são enfeites! São penduricalhos que agradam quando você se olha no espelho, mas pesam e após uns passos causam desconforto próximo de náuseas advindas de prazeres fúteis que se encerram após o gozo.

Ouça cada música que puder ouvir ainda que os primeiros versos não agradem. Nenhuma música pode ser julgada antes de se ouvir o seu refrão. Regozije-se com a paz do silêncio e converse porque as maiores lições que aprendemos vem de conversas descompromissadas. Descubra, porque é se descobrindo que a gente descobre o mundo. E é na sucessão de acontecimentos que criamos, aceitamos e desviamos é que desvendamos a vida que a gente quer, que a gente quis e que a gente foi. Sendo escolhido, escolhendo e se deixando escolher. Porque se você não acontece, a vida acontece por você, de uma maneira ou de outra.

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Wanderson Nogueira

Wanderson Nogueira

Observatório

Jornalista, cronista, comentarista esportivo, já foi vereador e agora é deputado. Ufa! Com um currículo louvável, o vascaíno Wanderson Nogueira atua com garra no time de A VOZ DA SERRA em Observatório, sua coluna diária.

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