Uma reverência à poesia do Hino de Nova Friburgo

segunda-feira, 07 de maio de 2018

Hoje, abro as portas desta coluna para reverenciar os hinos, uma vez que
suas letras fazem parte do universo literário. O hino representa amor e respeito
que sentimos pelo lugar onde vivemos.
Os hinos me tocam na alma.
Certa vez, fiz um trabalho com pacientes idosos, internados em uma
clínica geriátrica do Rio de Janeiro. A arteterapeuta me disse, tão logo o iniciei,
que nas demências, a memória musical era uma das últimas a serem perdidas,
e o Hino Nacional ficava preservado por um pouco mais de tempo. Não entendi
bem a informação, mas fato era que, no final das atividades da manhã, quando
o Hino era tocado num gravador de fita cassete pequeno, todos ficavam em
posição de respeito, muitos de pé e outros sentados em cadeiras de rodas, e
cantavam-no vigorosamente. Como eles gostavam daquele momento de
respeito à pátria!
Constatei, naquela época, inclusive, que sentia orgulho em participar
daquela homenagem ao nosso país. Depois, passei a ficar emocionada ao
cantá-lo em outras circunstâncias. Lembro-me de uma paciente, a Elba Will,
cantora de ópera do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, dava um passo à
frente e deixava sua voz, maravilhosamente intensa, conduzir o grupo. Ela
cantava com emoção, rindo.
Não se canta um hino só. É uma música, que, apesar de requerer
harmonia musical, não exige coro afinado, mas um canto compartilhado,
decorrente de um sentimento, acredito eu, de apego ao país onde se vive. Para
melhor dizer, à terra, ao solo.
A letra e a música do nosso Hino Nacional revelam vibração, esperança e
paixão por nossa gente, pelos nossos verdes campos e pelas estrelas do
nosso céu. Sua letra, composta por Osório Duque Estrada, em 1909, é uma
poesia. Sua música, composta por Francisco Manoel da Silva, em 1822, é uma
marcha vigorosa e alegre. Nosso Hino Nacional mostra a força do brasileiro e a
poderosa fertilidade da sua natureza.

Com a proximidade do aniversário de 200 anos da cidade de Nova
Friburgo e dos dias das mães, a ideia de que o lugar onde vivemos nos acolhe
me ressurgiu com a vontade de cantar o hino da cidade, composto há cem
anos. Como tanto gosto daqui, mesmo não tendo em seu solo nascido, sou
cidadã friburguense (com muita honra, ganhei este nobre título), quis mergulhar
em sua música e letra, cuja sonoridade ficou, hoje, se repetindo entre meus
pensamentos repartidos entre a construção desta coluna e uma infinidade de
ideias corriqueiras.
Os hinos contam histórias da terra e do povo a que se referem. São,
como o da França, La Marselhesa, composto em 1792, canção que se tornou
popular na Revolução Francesa, verdadeiros relatos de guerras e conquistas,
de bravuras e esperança, de belezas e riquezas da natureza.
O Hino de Nova Friburgo teve sua letra composta por Franklin Coutinho e,
sua música, pela Maestro Sérvio Lago. Em seus versos, estão entrelaçados os
sentimentos de amor e de paz, suas estrofes enaltecem a natureza Mata
Atlântica e apontam para o porvir da cidade. Ah, a constelação do Cruzeiro do
Sul, todos os dias, acalenta este nosso lugar, indicando um rumo.
Não sei os motivos pelos quais os hinos, hoje, não são considerados
como deveriam. Talvez porque são impostos e não mostrados como um modo
de engrandecer o lugar, de expressar amor à sua gente e respeito à história.
Em todos os lugares e épocas deste planeta, houve povos e civilizações que
surgiram e desapareceram, que tiveram seus problemas, preconceitos e
injustiças, que passaram por tragédias. Nunca houve perfeições, pelo contrário,
a dor marcou a história humana. Todos os povos e civilizações tiveram seus
hinos como espelhos dos seus modos de ser; podemos considerá-los odes de
admiração e de identidade.
Nós, o povo friburguense, temos em nosso hino uma linda e suave
poesia, que inspira maviosidade. Vamos cantá-lo, apenas para dizer a nós
mesmos: Nova Friburgo, nós te amamos.

Hino de Nova Friburgo

Friburguense, cantemos o dia
Que surgindo hoje vem,
Nesta plaga onde o amor e a poesia
São como as flores nativas também
Escutando os rumores da brisa,
Refletindo esse céu todo azul,
O Bengalas sereno desliza
Bob o olhar do Cruzeiro do Sul.

Salve, brenhas do Morro Queimado,
Que os suíços ousaram varar,
Pois que um século agora é passado,
Vale a pena esse tempo lembrar.

Do suspiro na fonte saudosa,
Há três almas que gemem de dor,
Repetindo esta prece maviosa
Da saudade, do ciúme e do amor
Estas serras de enorme estatura,
Alcançando das nuvens o véu,
São degraus colocados na altura,
São escadas que vão para o céu.

Salve, brenhas do Morro Queimado,
Que os suíços ousaram varar,
Pois que um século agora é passado,
Vale a pena esse tempo lembrar.

Coroemos de versos e flores
A Princesa dos órgãos, gentil,
Embalada em seus sonhos de amores
Das aragens ao canto sutil.
Em teu seio de paz e bonança,
Sono eterno queremos dormir
Doce anelo de nossa esperança,
Esperança de nosso porvir.

Salve, brenhas do Morro Queimado,
Que os suíços ousaram varar,
Pois que um século agora é passado,
Vale a pena esse tempo lembrar.

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Tereza Malcher

Tereza Cristina Malcher Campitelli

Momentos Literários

Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis, presidente da Academia Friburguense de Letras e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.

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