Uma orquídea feita de trovas

segunda-feira, 05 de fevereiro de 2018

UMA ORQUÍDEA FEITA DE TROVAS

 

A minha grande alvorada

Será eterna... eu suponho!

Se um sonho não der em nada

Eu troco por outro sonho!

Dilva Moraes

Trova premiada em 2008, em Cambuci

 

Dilva foi uma amiga que não tive a oportunidade de conhecer ao longo da minha vida. Conheci-a há cinco anos, mais ou menos. Nestes poucos anos em que fomos amigas, tive contato com uma mulher elegante, inteligente e criativa. Que me falou dos cuidados que precisamos ter com o ambiente literário para que se torne belo e atraente.

Hoje, a elegância não tem sido uma qualidade valorizada; o que é uma pena. A elegância de pensar, de escrever e de se relacionar é um atributo especial pelas posturas que podemos ter na vida. O modo de ser Dilva me fez reforçá-la e admirá-la ainda mais, inclusive na literatura.

A elegância de viver nos faz tocar o mundo com firmeza e suavidade em todos os seus detalhes, inclusive nos mínimos, tal qual a trova é uma obra poética. O trovador vai fundo, até quando sua poesia é esguelhada; ah, o sentido da vida não é oblíquo e pode ter sete sílabas e quatro versos apenas? A percepção tem a possibilidade de variar entre a nobreza e a pobreza. O escritor, seja de trova ou verso, caso se apequene, fica limitado às estrelas que consegue ver no céu. Entretanto, cada instante do dia é tão amplo quanto o universo se considerarmos suas causas e consequências, se observarmos suas extensões e paradoxos.

Dilva tinha nobreza. Vestia-se, falava e trovava com elegância e lucidez. Apreciava o melhor e teve coragem. Tanto assim que foi presidente da Academia Friburguense de Letras e Secretária de Cultura, funções públicas que, na maioria das vezes, em anos passados, eram ocupadas por homens. Através do seu trabalho, ofereceu contribuições importantes à cidade.

Dilva me faz pensar que o fazer literário tem sutilezas raras. Lewis Caroll as tinha quando construiu Alice. O poeta Antônio Cícero também. Os fatos quotidianos, os momentos amorosos e o caos podem ser tocados pelas palavras com graciosidade sem que se retire a amplitude e profundidade das questões abordadas.

Dilva era uma orquídea vivida, cheia de versos. Vou guardá-la com carinho.

 

Foi capricho ou devaneio,

Quando eu lhe disse: “Não sei”!

Orgulhoso – ele não veio;

Caprichosa – eu não voltei!

Dilva Moraes

Menção Honrosa – Nova Friburgo 2007

 

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Tereza Malcher

Tereza Cristina Malcher Campitelli

Momentos Literários

Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis, presidente da Academia Friburguense de Letras e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.

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