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Quem sabe os jovens escritores vão tocar a cidade
Quem sabe, quem sabe a partir do dia 31 de março Nova Friburgo comece a ser outra? Será iluminada por cinco jovens escritores, ávidos de preencherem páginas em branco com ideias sensíveis, através da prosa e da poesia. Eles serão como borboletas que pousarão nos cantos da cidade.
A Academia Friburguense de Letras se esforça para preencher o vazio que vem rasgando a cidade, fazendo fendas na cultura de um tempo para cá pelo esquecimento de que aqui, desde sempre, é um lugar de arte e inspiração. Da mesma forma que sua beleza natural tem sido maltratada, o dia a dia vem fazendo a criatividade da sua gente adormecer. Mas a Casa de Salusse está desperta. Apenas por pertencer à cidade tanto quanto a praça Getúlio Vargas. Até porque a nossa Academia nasceu na simplicidade e na liberdade; sem portas, janelas e chaves. Nasceu nos bancos da praça, sob as árvores, com o canto dos passarinhos e o cheiro da Mata Atlântica. E, no dia 31 fará jus à história deste lugar que ainda gera e acolhe poetas e trovadores, romancistas e cronistas. Filósofos e artistas. Será que foi por isso que JG de Araújo Jorge a caracterizou como uma parada a caminho do céu?
Não foi à toa que a Academia Friburguense de Letras foi criada pelos amantes da vida que não a fizeram para ficar afastada do burburinho das ruas, nem do movimento das calçadas, longe do pulsar do coração do friburguense, sem escutar os passos da sua gente esforçada, brilhante e corajosa. Foi criada a setenta anos para ser viva! E tão viva foi que até hoje tem seus olhos atentos aos rumos da cidade.
Hoje, Nova Friburgo está se distanciando do que foi ao esquecer dos seus atributos essenciais. Mesmo assim, a arte literária está por toda parte. Há sempre alguém registrando ideias e sentimentos no papel. A literatura está em muitas pontas de caneta e teclas do computador, sendo feita por pessoas de várias idades e grupos. Principalmente pelos jovens que sentem a necessidade de extravasar as impressões que têm das experiências vividas e que não querem fazer da sua própria alma uma caixa de guardados.
O jovem tem a sensibilidade à flor da pele e o ato de escrever o enobrece e transforma; aprofunda suas percepções. Em cada texto que escreve, ele sofre metamorfoses. Nenhum escritor acaba um texto da mesma forma que começou. É um processo mágico.
É neste poder fantástico que a Academia investe, através do poder jovem de querer transformar a si mesmo e ao mundo, tocar a cidade. Fazê-la florescer.
Nada mais é transformador do que um livro. Cada texto, seja em prosa ou verso é um grito de vida face ao espanto. Face ao inexorável. Ah, a realidade é implacável... O jovem tem choro, riso e ironia saindo pelos poros. Sonha escrevendo. Perde-se e acha-se em suas palavras. Abraça a vida com suas frases. Muda o mundo com sua arte.
A Academia de Letras não poderia deixá-los à deriva, tinha que trazê-los aos seus braços. Niná-los. Alentá-los para torná-los grandes. Esses cinco jovens já são imensos pelos seus talentos e esforços. São operários da literatura. Trabalham com as palavras de sol a sol e já conhecem muitas estradas.
Nós, meros mortais acadêmicos, ditos imortais, vamos aprender com eles. E com eles estará o porvir da Academia Friburguense de Letras.
Que sejam bem-vindos!
Tereza Cristina Malcher Campitelli
Momentos Literários
Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis, presidente da Academia Friburguense de Letras e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.
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