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Pérolas Negras em Nova Friburgo
A Dissertação de Mestrado, editada no livro da minha amiga, a professora
Márcia Lobosco, “Suiça brasileira não é aqui: construção identitária de
professoras no Município de Nova Friburgo, elaborada no Programa de Pós-
Graduação em Relações Étnico-Raciais do Centro Suckow da Fonseca, entre
2013 e 2015, propiciou-me uma série de lembranças ao processo de
elaboração da minha Dissertação de Mestrado, defendida em 1985, PUC-RJ, e
às relações que estabeleci ao longo da vida com pessoas, cuja pele era ou é
negra.
Prefiro, assim, referir-me a elas porque não as distingo das demais
pessoas com quem convivi e convivo. Também, tive a oportunidade de
confirmar convicções sobre a questão racial, que faço questão de não as
abordar a partir de uma perspectiva preconceituosa, uma vez que acredito ser
o preconceito a base de imposturas perversas e não éticas.
Inicialmente, revi a ideia que se faz do conceito de igualdade, liberdade e
fraternidade, difundido desde o século XVI, que, a meu ver, não retrata a
essência humana. Penso que os princípios que envolvem os conceitos de
diferença, livre-arbítrio, respeito e responsabilidade estejam mais adequados à
abordagem étnico-racial. Ah, não há impressões digitais idênticas; são
individuais.
Tive o privilégio de estabelecer relações afetivas com negros, que me
foram e são inesquecíveis. Todos, além de terem me dado o melhor de si,
muito me ensinaram, e, de modo bem espontâneo, retribui o que recebi.
Considero as relações espontâneas as mais verdadeiras e plenas.
A pesquisa histórica que sustentou a elaboração dessa Dissertação me
tocou em muitos aspectos a pesquisa que fiz durante o Mestrado, que tratou
das relações de poder na escola. A começar pela biografia; Florestan
Fernandes e Darci Ribeiro foram autores buscados por ela e por mim. Ao final
do trabalho, concluí que a escola reflete a formação do povo brasileiro, sendo
marcada por relações discriminatórias e de poder que não emergiram no bojo
das relações humanas. Foram, por conseguinte, nos âmbitos político, social e
cultural impostas, fazendo o sistema educacional estabelecer distinções entre a educação para ricos e a educação para pobres, de modo que o acesso para
negros fosse largamente negado em todo o território nacional, ao longo de
séculos.
E foi, exatamente por brechas nessa estrutura, que, a partir de um
esforço guerreiro, os negros, superaram o status quo de menos valia. Deste
modo, tornaram-se professores, supervisores e diretores escolares.
A herança da escravidão marcou a distinção entre negros e brancos,
determinando as consequências de um preconceito que se arraigou na
organização das cidades. Também inviabilizou as possibilidades de ascensão
social e de acesso ao saber, determinando a construção de preceitos que
delimitaram a participação do negro na vida pública.
Porém, além do nosso povo ser miscigenado, o que torna a genética
negra presente no cidadão brasileiro, a produção econômica do país dependeu
e depende do trabalho negro. O Brasil, portanto, deve reverências a este grupo
social, que deixou gotas de suor em cada pedaço do seu território que foi
construído pelas mãos humanas.
Inclusive, em Nova Friburgo!
Tereza Cristina Malcher Campitelli
Momentos Literários
Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis, presidente da Academia Friburguense de Letras e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.
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