Pérolas Negras em Nova Friburgo

segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

A Dissertação de Mestrado, editada no livro da minha amiga, a professora
Márcia Lobosco, “Suiça brasileira não é aqui: construção identitária de
professoras no Município de Nova Friburgo, elaborada no Programa de Pós-
Graduação em Relações Étnico-Raciais do Centro Suckow da Fonseca, entre
2013 e 2015, propiciou-me uma série de lembranças ao processo de
elaboração da minha Dissertação de Mestrado, defendida em 1985, PUC-RJ, e
às relações que estabeleci ao longo da vida com pessoas, cuja pele era ou é
negra.

Prefiro, assim, referir-me a elas porque não as distingo das demais
pessoas com quem convivi e convivo. Também, tive a oportunidade de
confirmar convicções sobre a questão racial, que faço questão de não as
abordar a partir de uma perspectiva preconceituosa, uma vez que acredito ser
o preconceito a base de imposturas perversas e não éticas.

Inicialmente, revi a ideia que se faz do conceito de igualdade, liberdade e
fraternidade, difundido desde o século XVI, que, a meu ver, não retrata a
essência humana. Penso que os princípios que envolvem os conceitos de
diferença, livre-arbítrio, respeito e responsabilidade estejam mais adequados à
abordagem étnico-racial. Ah, não há impressões digitais idênticas; são
individuais.

Tive o privilégio de estabelecer relações afetivas com negros, que me
foram e são inesquecíveis. Todos, além de terem me dado o melhor de si,
muito me ensinaram, e, de modo bem espontâneo, retribui o que recebi.
Considero as relações espontâneas as mais verdadeiras e plenas.

A pesquisa histórica que sustentou a elaboração dessa Dissertação me
tocou em muitos aspectos a pesquisa que fiz durante o Mestrado, que tratou
das relações de poder na escola. A começar pela biografia; Florestan
Fernandes e Darci Ribeiro foram autores buscados por ela e por mim. Ao final
do trabalho, concluí que a escola reflete a formação do povo brasileiro, sendo
marcada por relações discriminatórias e de poder que não emergiram no bojo
das relações humanas. Foram, por conseguinte, nos âmbitos político, social e
cultural impostas, fazendo o sistema educacional estabelecer distinções entre a educação para ricos e a educação para pobres, de modo que o acesso para
negros fosse largamente negado em todo o território nacional, ao longo de
séculos.

E foi, exatamente por brechas nessa estrutura, que, a partir de um
esforço guerreiro, os negros, superaram o status quo de menos valia. Deste
modo, tornaram-se professores, supervisores e diretores escolares.

A herança da escravidão marcou a distinção entre negros e brancos,
determinando as consequências de um preconceito que se arraigou na
organização das cidades. Também inviabilizou as possibilidades de ascensão
social e de acesso ao saber, determinando a construção de preceitos que
delimitaram a participação do negro na vida pública.

Porém, além do nosso povo ser miscigenado, o que torna a genética
negra presente no cidadão brasileiro, a produção econômica do país dependeu
e depende do trabalho negro. O Brasil, portanto, deve reverências a este grupo
social, que deixou gotas de suor em cada pedaço do seu território que foi
construído pelas mãos humanas.

Inclusive, em Nova Friburgo!

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Tereza Malcher

Tereza Cristina Malcher Campitelli

Momentos Literários

Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis, presidente da Academia Friburguense de Letras e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.

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