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Palavras pobres, palavras ricas
As palavras não levam carteira de dinheiro nos bolsos. Nem necessitam de moedas para serem importantes. As palavras ricas são as que são bem-ditas. Um texto escrito com palavras pobres, quem aguenta ler?
As palavras ricas são trabalhadas. Um belo texto é tecido e não precisa de fios egípcios. Com as mesmas palavras pode-se escrever uma notícia de jornal, uma carta a um amigo, um bilhete. Um diário, quem sabe?
Elas devem ser bem colocadas, quer dizer, estarem no lugar certo. São pesquisadas e experimentadas. O dicionário é um bom amigo. Imaginem se eu dissesse que tenho receio em escrever bobagens. Imaginem seu fosse considerada uma escritora cheia de banalidades. Imaginem se eu não encontrasse palavras diferentes para descrever a mesma coisa. Palavras repetidas cansam qualquer leitor. E, eu, agora, estou fazendo de propósito, repetindo a palavra palavra para mostrar o quanto é terrível ao leitor ler repetidas vezes a palavra palavra.
As rendeiras são sábias. Elas tecem os fios, fazendo a renda para moça bonita usar no vestido em dia de domingo. Que orgulho elas não sentem quando veem a quase mulher passear na praça com a renda por elas tecidas? Enquanto tecem escolhem os fios, limpam o tear, ajeitam a renda já feita. Tiram o suor do rosto. Sentam e novamente sentem a cadeira. A dor nas costas. Muitas vezes. Não percebem o dia passar. Apenas sabem que a vida segue seu caminho.
Escritores são rendeiros. Não diferentes do padeiro que apronta de manhã, bem cedo, o pão francês quentinho. É tão bom a gente começar o dia com palavras doces. Ou animadoras. Os dias tristes são feitos de palavras sem esperanças. As mesinhas de cabeceira sem livros são pobres. Os livros sempre trazem sonhos ricos.
É bom guardar palavras debaixo do travesseiro para brincar com elas antes de dormir, apenas para evitar que os sonhos sejam letárgicos.
O maior triunfo de uma pessoa é quando reconhece o valor das próprias palavras que ganham identidade na sua voz. Entretanto, autenticidade não está em qualquer coisa que se diga, está no sentido contido em cada pessoa. Ninguém vive de palavras alheias. As genuínas são fontes de alimento.
Tereza Cristina Malcher Campitelli
Momentos Literários
Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis, presidente da Academia Friburguense de Letras e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.
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