Colunas
Outro olhar
Hoje, sábado, a escritora Maria Helena Lenah Oswald Cruz, lançou na livraria Sabor de Leitura, o livro, A Voz do Tempo, um romance autobiográfico. Nessa obra, ocupei o lugar do “outro olhar”. Um lugar que em a função de ler, observar e avaliar o processo de escrita de outros escritores. Ou melhor, de aventureiros no bosque das palavras.
De certa forma, talvez por imaturidade literária, faço alguma reserva à ideia de crítica, enquanto processo de julgamento de um texto, que ainda esteja em construção ou já finalizado. Tal crivo, que reconheço seu valor pela preservação da qualidade literária, tem uma postura que, se não bem conduzida, pode causar um sentimento de desânimo no autor. Até do abandono da obra. Ou, na pior das consequências, a constatação da incapacidade de ser escritor. O que a meu ver não é bom. Penso que tal função deva ser pautada em uma postura animadora, capaz de estimular aquele que está em pleno processo criativo a buscar a melhor forma de expressão literária, superando repetições ou frases clichês, a querer ir além nas ideias, ultrapassando percepções superficiais ou errôneas.
Então, sinto-me melhor substituir a ideia de crítica pela a de “outro olhar”. Assim, coloquei-me ao lado da Lenah. A literatura nos uniu numa amizade longa, em que compartilhamos ideias e textos, dificuldades e superações. Aliás, a literatura tem o poder de unir as pessoas e faz isso muito bem.
Participei do processo criativo da Lenah desde o início, quando ela me disse ao me dar carona em seu carro azul escuro, depois que saímos da nossa oficina literária, na qual começamos a aprender a escrever: preciso contar minha história de vida para poder viver os anos que tenho pela frente.
Éramos cinco, contando com a nossa professora, Virgínia Cavalcanti. Lenah nos contava sua vida e nos falava sobre o seu processo de escrita, tão intenso e tão sofrido. Ela adoeceu gravemente como uma forma do seu organismo também de expurgar o que suas palavras expeliam. Nós participávamos afetivamente, mas tendo cuidados com o desenvolvimento harmonioso do texto.
Depois que considerou que a primeira versão do livro estava pronta, ela nos deu para ler. Lemos com olhos amigos e perspicazes, imbuídos nos poucos conhecimentos literários que tínhamos, como leitoras, escritoras e pessoas, humanamente situadas em complexos contextos de vida.
Foram anos, mais de dez, durante os quais tivemos um olhar especial para a Lenah, o que influenciou nossos modos de interagir com a vida e, especialmente a mim, colaborou para que eu começasse a me tornar uma escritora.
Tereza Cristina Malcher Campitelli
Momentos Literários
Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis, presidente da Academia Friburguense de Letras e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.
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