Os sapatos de Chaplin

segunda-feira, 23 de julho de 2018

Vez em quando, umas ideias tomam conta dos nossos pensamentos. Atualmente, a relação da imagem do personagem com o seu criador anda rondando minhas divagações. Um estilo literário que muito me convida à leitura é a biografia. Acabando de ler o romance A Casa do Lago, um texto que conta a história da Alemanha ao longo de um século, que não deixa de ser a biografia de um lugar, e, ficando naquela procura do que ler, eu me deparo, no Amazon, com a biografia de Charles Spencer Chaplin (1989-1977).

Logo nas primeiras páginas, a imagem do seu personagem, por mim e por todos nós, tão querido, o Carlitos, me invade como uma brisa alegre. Fico rindo com as tantas recordações que dele guardo, admirada pelo talento de um grande, talvez o maior e mais completo artista de todos os tempos.

Apesar de estar falando de cinema, estou, também, me referindo à literatura, pois toda cena cinematográfica emerge de um roteiro. A descrição da figura do personagem faz parte desse âmbito literário, ou seja, suas caracterizações, seu comportamento, seus gestos e trejeitos são descritos literariamente. Uma das marcas deste ser ficcional são seus pés e seus longos sapatos de bicos pontudos. Lendo sua biografia, tenho o conhecimento de que ele é descendente de uma família inglesa de sapateiros, consertadores de botas. Ah, tinha que ser. O inconsciente do autor está em toda sua criação. Seu passado fez-se presente e ofereceu à sua obra uma identidade, uma marca única, dentro do universo literário ficcional. Além do mais era filho de artistas; nasceu com a arte correndo no sangue, principalmente de sua mãe, Hannah Chaplin.

Charles Chaplin, inclusive, era inglês, nascido em Londres. Além do mais, se observarmos bem, o Carlitos tinha uma elegância inglesa, mesmo nas cenas em que ele era o mais desafortunado dos seres. Ele, o autor, também passou por dificuldades financeiras e desestruturação familiar, o que lhe possibilitou a criação de cenas tão sensíveis, convincentes e emocionantes.

A genialidade de Chaplin marcou a todos nós com a sensibilidade de um homem que entendia de humanidade, de amor e de esperança. Ao longo de mais de setenta anos, como escritor, ator, roteirista, dançarino, humorista, produtor, empresário ofereceu contribuições e influências à arte, especialmente ao cinema.

Aqui, enfim, deixo duas frases que me tocaram.

“Pensamos demasiadamente e sentimos muito pouco. Necessitamos mais de humildade que de máquinas. Mais de bondade e ternura que de inteligência. Sem isso, a vida se tornará violenta e tudo se perderá”.

“A vida é maravilhosa se não se tem medo dela”.

 

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Tereza Malcher

Tereza Cristina Malcher Campitelli

Momentos Literários

Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis, presidente da Academia Friburguense de Letras e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.

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