O melhor presente que a literatura poderia me dar

segunda-feira, 15 de maio de 2017

Tornar-me cidadã friburguense é o melhor presente que a literatura poderia me dar

Thereza Malcher

 Não cheguei ao mundo em Friburgo. Talvez, antes de aterrissar tenha sobrevoado estes vales e sentido o cheiro das pessoas que há sessenta e três anos viviam aqui. Seja pela beleza dos eucaliptos, das águas que correm em suas veias, os rios, até pelos jacus que me acordam com seus gritos nas árvores do meu jardim, aprendi a amar esta terra que agora posso dizer que é minha. Sou, então, friburguense de corpo e alma. Sou verde.

 

Tanto verde é o meu coração que se fez mesclar com o vermelho e branco, as cores da Academia Friburguense de Letras. Eu tinha mesmo que me afeiçoar por Friburgo por que sou amante das palavras. Sou viciada em criar frases e tirá-las do meu pensamento torto, porém meigo. Escrever me dá sentido e meus textos me revelam como vejo o mundo; eu me conheço pelas letras. Ah, este mundo desmoralizado não nos poupa! Como a natureza é perfeita, fez aqui um lugar para a gente se proteger nas reservas florestais dos tantos rodamoinhos da modernidade. Como gosto de ver a cidade no meio da praça Presidente Getúlio Vargas, de ouvir o sotaque caipira que dá sonoridade ao E e do R do meu nome, de sentir a energia do sorriso das pessoas que são gentis contadoras de histórias. Aqui, tudo me abriga.

Por isso e por muito mais me encantei por esta cidade que sempre recomeça por ser Nova. Por ser uma cidade que tem por essência a liberdade, Fri-burgo. Aqui, fui fazendo minha vida acontecer e participando da brasilidade. Friburgo é Brasil. É amarela e azul. É verde perseverança. É gente de fibra. Que não é acanhada. Eu, também, não sou retraída, mesmo sem ter convicção alguma. A escrita me faz ser um gerúndio; escrevendo vou sendo. Tenho, portanto, a deformação de não conseguir ficar sem usar as mãos para materializar ideias no papel. Sou soma, apesar de não saber ao certo sobre a vida; meu pensamento vive despencando ante os espantos. Sou como os tropeiros que se agarram aos caminhos em trilhas desconhecidas, tal qual os nativos e colonizadores de pernas negras, brancas e vermelhas. Hoje, não mais me diferencio das pessoas que aguardam o ônibus no ponto. Sinto-me como todas. Escrevo para o jornal da cidade para dar continuidade ao que vejo nas ruas, não mais do que tentativa em descrever percepções, sem fazer questão de ser precisa, tal qual o friburguense, que nunca quebra as pernas e que todos os dias está de volta à cidade. Recomeçando. Minhas palavras não pretendem ser nem para o bem e para o mal, querem ser a prova de que eu existo. Sou Friburgo

 

 

P:S: Grata à Câmara dos Vereadores, especialmente ao Márcio Damázio, que reconheceu a minha existência. Aos meus amigos Zozô e Rodrigo que acenaram para mim. Aos meus companheiros da Academia Friburguense de Letras que sempre estiveram ao meu lado, principalmente ao Ordilei e Robério. À minha família amada. Aos meus amigos todos que me oferecem os melhores sorrisos. Aos cachorros. Às árvores. À minha roseira vermelha. Ao jornal A Voz da Serra que me acolhe. Aos meus leitores.

 

 

 

 

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Tereza Malcher

Tereza Cristina Malcher Campitelli

Momentos Literários

Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis, presidente da Academia Friburguense de Letras e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.

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