Colunas
Literatura e ética
Quando lemos um romance, uma poesia ou mesmo uma pesquisa
histórica vamos além do que está literalmente escrito. O texto invade nossas
percepções, lembranças e o conhecimento que adquirimos ao longo da vida.
Fazemos ilimitadas cadeias de associação de ideias, o que nos permite tirar
conclusões e construir novos conceitos. Ou mesmo confirmar os que já
possuímos. A leitura que nos possibilita esse movimento de pensamento
possui valor inestimável. É transformadora e inquietante.
Assisti à palestra intitulada Ética, Educação e Direitos Humanos,
apresentada pelo professor e acadêmico Ricardo Lengruber Lobosco, no
Educandário Miosótis, fundamentada no livro que escreveu com o mesmo título.
Suas ideias atiçaram minhas reflexões a respeito deste nobre conceito que
preserva os valores humanos.
Hoje, ao ligar a televisão e assistir notícias que me franzem a testa, entrei
em contato com a pertinência da veiculação da ética pelos ares brasileiros.
A ética nos toca através da literatura. Inclusive, os textos que abordam
imposturas perversas e fazem de alguma forma, mesmo nas entrelinhas, o
contraponto com posturas que respeitam os modos de viver e conviver,
também nos permitem rever princípios que regem a vida. Como o conto de
Nikolai Gogol, O Capote. Apesar de ter sido escrito há mais de 150 anos, tem
atualidade. Hoje, é repetido com frequência pelas ruas das cidades.
A leitura é um aprendizado; ler não é decodificar palavras, mas
compreender os sentidos do texto. Toda escrita é intencional. Até a criança
quando faz um desenho pretende expressar sentimentos e percepções. E
quanto mais estabelecemos relações entre um texto que lemos com valores, o
conteúdo da leitura nos adentra e ganha um sentido maior. Ao terminá-la,
somos uma pessoa diferente.
O mundo é mutante, como um cristal que se balança ao vento. Seus
prismas, a cada instante, revelam imagens distintas e exibem cores
dissemelhantes. Nada é perene; tudo é efêmero. Entretanto, a vida existenteno planeta é a mesma.
Somos feitos de carne e ossos, temos olhos, pernas e
braços. E convivemos; vivemos em sociedade. Amamos. Procriamos e
preparamos novas gerações para a vida em comunidade, como disse Emile
Dürkheim, o sociólogo francês, no século XIX.
A roupagem dos valores muda, certamente. Mas a essência, jamais, pois
inviabilizaria a sobrevivência do homem aqui. Nesta casa, chamada Terra. Um
lugar repleto de livros.
P.S.: Hoje fui um pouco teórica.
Tereza Cristina Malcher Campitelli
Momentos Literários
Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis, presidente da Academia Friburguense de Letras e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.
A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.
Deixe o seu comentário