Colunas
A folia das letras
Estamos em plena festa cultural. Festa popular, festa livre. Movimentada
pela alegria em comemorar e compartilhar o carnaval nas ruas, nos clubes, nos
meios virtuais e de comunicação. Momento em que o passado é reverenciado
com beleza e criatividade.
Mas aqui, nesta coluna, vou olhar este domingo em que as escolas de
samba vão à rua com os olhos de quem gosta de palavras e de escrevê-las.
Carnaval é arte. Cenários, figurinos, música, dança, cinema e literatura se
interagem e se misturam. As capacidades inventivas são reveladas através das
formas e cores, do som e dança dos sambistas. O carnaval é literário porque é
escrito em prosa e poesia. Em crônicas. Contado e recontado de boca em
boca, tal qual as antigas histórias. Pesquisado.
Carnaval é história. Além de ser uma festa antiga da qual se tem registro
desde o século VII, na Itália, revela a paixão que o carnavalesco tem pela vida
do planeta Terra, quando viaja até os primórdios da civilização. É um evento
que descortina a vontade que todos têm em contar a história dos que deram
suas vidas para construírem o mundo em que vivemos hoje. Talvez para
garantir às novas gerações o conhecimento das conquistas feitas pelo homem
ao longo do tempo. O carnaval mostra que a civilização humana existiu e existe
em múltiplos contextos; não é movido pela exclusividade, pelo contrário,
mistura povos e pessoas. Entra no coração dos foliões, fazendo-o bater no
ritmo do samba; todos cantam as mesmas letras e danças as mesmas
músicas. Quem as escreve, visualiza o povo inteiro cantando em uma única
voz. É história do Brasil que mistura o índio, o branco e o negro.
Carnaval é imaginação. Nas ruas, tudo se transforma; homem vira mulher,
menina vira mulher-gato, gente vira fantasma. Os personagens da literatura
saem dos livros e são encarnados por foliões de todas as idades. É a festa da
literatura viva.
As letras das músicas das escolas de samba de Nova Friburgo não
cansam de contar a história da cidade e de trazer os heróis para a avenida
Alberto Braune, fazendo o friburguense reverenciá-los. Os carros alegóricos e
fantasias revelam como hoje o passado é interpretado, com todas as suas
imensas riquezas.
O carnaval nos aponta para o que deixamos de aproveitar e que
precisamos resgatar.
Estou agora com dois livros em minhas mãos como fonte de pesquisa,
livros que já li faz algum tempo. Até Quarta Feira!, de David Massena, e
Carnavalança, de Mirna Portela. Cada um deles aborda o carnaval de uma
forma. David conta a história do carnaval de Nova Friburgo, depois de situá-lo
no contexto mundial através dos tempos. Já Mirna traz as marchinhas de
carnaval que, apenas lendo-as, me fazem sentir vontade de cantar e dançar.
Ambos não poderiam deixar de fazer referências ao Zé Pereira, o
personagem típico do carnaval, não somente no Brasil. E aí, deixo sua
marchinha para vocês!
ZÉ PEREIRA
Antonin Louis e Philibert Burani
Adaptação de Francis Correia Vasques
Viva o é Pereira
Viva o Zé Pereira
Viva o Zé Pereira
E viva o Carnaval
Viva o Zé Pereira
Que a ninguém faz mal
Viva a Pagodeira
Nos dias de Carnaval!
Viva, viva, viva,
Viva o Zé Pereira!
E viva o Carnaval!
Tereza Cristina Malcher Campitelli
Momentos Literários
Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis, presidente da Academia Friburguense de Letras e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.
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