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“No cimo da montanha, em seu ninho florido
– eis Friburgo! – “um jardim suspenso” – no alto erguido
Paragem de beleza infinita e de calma,
Onde respira o corpo, e onde repousa a alma.
Cidade cujo nome é um símbolo e um troféu,
“parada” de um caminho... a caminho do céu!”
JG de Araújo Jorge
Sou uma pessoa de sonhos. Por causa deles, vivo cercada de ideias e coisas a fazer. Às vezes, queria que meus dias tivessem mais horas; as vinte e quatro que ganho diariamente são insuficientes para realizar o que eu gostaria. Com relação a Nova Friburgo, vou confessar, tenho lá meus desejos. O principal deles é vê-la reluzir de novo.
Nova Friburgo. Este seu nome, decorrente da cidade suíça Fribourg (em francês) ou Freiburg (em alemão), por si só já designa que nestas altas montanhas da Mata Atlântica habita um povo que preza a liberdade. Quem chega à cidade, depois de subir a serra e ver o Rio de Janeiro de longe, depara-se com o Cão Sentado dando-lhe boas vindas, dizendo, de modo imponente, que a cidade é um lugar que foi conquistado com lutas e esforços de pessoas de diferentes origens.
Ninguém se prepara para ser livre. Dewey já dizia isso. A liberdade é vivenciada. Os cidadãos a vivificam, para melhor dizer, através de pensamentos, palavras e ações. Liberdade é vida e mais vida. E vida é o que mais existe em nossas terras pela energia que nossas montanhas concentram, pela sua geografia, estando em posição central tanto no estado do Rio de Janeiro, como na Mata Atlântica. Um lugar especial que necessita de olhos atentos e atitudes cuidadosas.
Ah, a liberdade! Que conquista longa! Sofrida. Desejada. E agora, em 2016, depois de muito sonhar com uma vida coletiva assim, vejo a ponta desta esperança num caminho, mais uma vez, construído por cidadãos, filhos da terra ou por ela adotados, como o acreano JG de Araújo Jorge, que trabalharam e ainda trabalham, muitas vezes em caráter voluntário. Este caminho é feito de livros, leitores e escritores. Escolas, professores e bibliotecas.
Hoje, vejo Nova Friburgo com relevantes movimentos em prol da cultura, da educação e da leitura. A Academia Friburguense de Letras que, no ano que vem, comemora setenta anos de atividades ininterruptas e, neste ano, realizou palestras sobre a história da cidade, filosofia, teologia, psicologia e literatura, difunde a leitura em escolas e instituições, além de desenvolver o projeto Encontro entre Escritores, tendo a finalidade de estimular a produção literária da cidade. O Sesc, que, como sempre, tem se esforçado ao máximo para oferecer à população, aos alunos de escolas, especialmente para a Educação de Adultos (EJA), um número sem fim de atividades culturais, de saraus a oficinas, cujos esforços muito beneficiam a cultura. Os meios de comunicação, como este jornal, A Voz da Serra, que valoriza as inciativas culturais e educacionais, acolhe os escritores e divulga ideias valiosas ao desenvolvimento da cidade. Como as televisões e rádios atentas aos fatos e pessoas dedicadas à vida de Nova Friburgo.
Ainda, neste ano, temos o Café Literário, que reúne há quatro anos os amantes da literatura na padaria do Sans Souci. A Feira Cultural, que foi realizada na Praça Dermeval Barbosa Moreira, quando agregou os escritores da cidade. A casa Elisa Vidal, que fomenta a literatura com lançamentos de livros, palestras e com o Clube de Leitura. Inclusive, neste momento, planeja a Flinf (Festa Literária de Nova Friburgo) e realiza, com coragem e determinação, um antigo sonho de todos nós.
Não posso deixar de me deliciar com tantas iniciativas realizadas, aliás, a maioria, com parcos recursos materiais ou mesmo sem algum. As pessoas as concretizam por amor à cidade, ao ser humano e à arte. Ah, Friburgo teve e tem a sorte de ter filhos que a amam. Amor. Uma definição que não está nos dicionários. Amor se sente. Amor está no modo de olhar e na força dos braços. Amor está nas decisões individuais que determinam a dedicação de momentos valiosos da vida em prol do bem comum e que faz com que haja o entrecruzamento de talentos e trabalhos.
“A vida não pode ser economizada para amanhã. Acontece sempre no presente.”
Rubem Alves
Tereza Cristina Malcher Campitelli
Momentos Literários
Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis, presidente da Academia Friburguense de Letras e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.
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