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Dia do escritor
Nesta quinta-feira, 25 de julho de 2019, o céu está desenhado com esparsas nuvens brancas, que vagabundeiam num azul profundo e silencioso, como observou Rubem Braga, certa vez, deitado em sua rede. O céu dele era o de Ipanema, e o meu, agora, é o de Nova Friburgo. Tal vagar inspira-me ainda mais para escrever a respeito do dia de quem escreve, até porque é justo fazer uma reverência a um trabalhador que tem como profissão o uso da palavra. Acredito que esteja na palavra o maior poder existente no mundo. Ao longo da civilização e, logicamente, nos dias atuais e futuros, nada foi, é e será realizado sem o emprego da palavra. A começar pela comunicação entre os humanos e dele com os demais seres do planeta. Tornamo-nos um cidadão e registramos uma nacionalidade através da certidão de nascimento, que é constituída de palavras. As leis são estabelecidas através do seu emprego, tal qual as sentenças jurídicas e as bulas de remédio. As formações profissionais estão fundamentadas em livros, como também as religiões. Os escritores, para dar conta das suas atribuições, trabalham com arduidade, muitas vezes de modo penoso quando invadem as madrugadas e vencem o pestanejar. São profissionais cercados de regras. Inclusive, aqueles que buscam a liberdade para gestar ideias e transpô-las com arte para um texto. Todo o escritor, que seja expert em apenas um estilo literário, precisa ter pensamento errante para vislumbrar e realimentar conceitos, idealizações ou construir novos. Para buscar a palavra exata, disso o tradutor pode falar de camarote. Os que mergulham na literatura são os mais inquietos; não têm medo de imaginar e não temem escrever o que querem expressar.
Que seja insensato ou impertinente, louco ou alienado, o escritor criterioso não é um tolo. Sabe o que dizer e como fazê-lo, podendo mesmo começar um texto com uma vírgula, como fez Clarice Lispector, ou colocar pontos de exclamação ou interrogação no meio da frase, burlando as regras gramaticais. Apesar de que para cometer tamanha transgressão é necessário dominar a língua portuguesa, como fez Guimarães Rosa, que estudou inúmeros idiomas para melhor compreender esta nossa língua latina, a mais romântica do planeta, que, por conseguinte, é complexa e delicada.
O escritor nada deixa escondido sob tapetes. Sim, senhor, como dizia Alice, o que escreve vai mundo afora, toca pessoas das mais variadas idades e culturas. Sempre seus esforços colaboram para que o mundo se torne melhor.
Salve nosso dia!
Tereza Cristina Malcher Campitelli
Momentos Literários
Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis, presidente da Academia Friburguense de Letras e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.
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