Caluca, Tonico e Papu

segunda-feira, 13 de agosto de 2018

Amanhã, será o dia dos pais. Hoje, sábado, quis reverenciar esta pessoa tão importante na vida de alguém, talvez pelo fato de não tê-lo tido porque meu pai, o Caluca, foi-se encantado para o universo tão logo cheguei neste mundo. Mas tive dois avôs, que o substituíram e acolheram-me como filha. Entre nós houve um profundo amor, e a minha primeira lembrança foi estar no colo do Vovô Tonico quando ele me fazia ninar, andando pelo quarto, à pouca luz. Até hoje, sinto o balançar dos seus passos, o calor dos seus braços, o amor que emanava da sua respiração. Do Papu, sempre usando uma boina na cabeça, dele me lembro na porta do colégio com um semblante risonho. Nunca me esqueci do calor das suas mãos que seguravam as minhas quando andávamos pelas calçadas, do seu modo de caminhar, parecido com o do pato, e dos seus olhos verdes.  

Dos meus pais-avós, recebi os melhores sentimentos e os mais belos olhares que me estruturaram como pessoa. Com meus pais-avós, senti a força dos abraços que me acolheram nos momentos de medo. O modo como me chamavam, me fizeram ter confiança em ser Tereza.

Agora, muito emocionada e saudosa, sou tomada pela vontade de escutar as letras de músicas que reverenciam a pessoa do pai. São poesias de reconhecimento, carregas de afeto, belas palavras de agradecimento. Falam da importância da presença da figura masculina na vida de uma criança. Muitas letras se referem ao momento em que um pai se senta ao lado do filho e conversa. Ah, quantas vezes, eu me recostei no ombro do vovô e conversamos sobre tudo. Às seis horas da tarde, eu gostava de escutar, ao lado dele, a Ave-Maria no radinho de pilha, que ficava em sua cabeceira. Sim, as letras de música falam de momentos, como este, quase mágicos, que apontam para os caminhos da vida, nos servem de esteio e nos sustentam destino afora. Uma relação pai e filho ou filha guarda histórias e segredos. Dores. Saudades. Laços. Ternura. Amizade.

Então, deixo aqui, com muito carinho, mesmo que seja esta coluna publicada na segunda feira, um abraço aos pais que são ou que foram guerreiros e cuidam ou cuidaram dos seus filhos, nada lhes deixando faltar. Este pai, sempre visível na lembrança dos filhos, reinando como um tesouro e uma bússola, que emana amor, mesmo quando não está presente. O tempo, nesta relação de grande amor, não é significativo. Sua presença, mesmo que num dado momento seja ausente, mesmo em todo o silêncio, toca a campainha da porta de entrada da nossa casa. Ah, como somos inseguros quando, em algum momento da vida, percebemos que não teremos mais, a nossa frente, aqueles braços masculinos, sempre abertos para nós.

Papai, mesmo tendo partido tão cedo, você me fez inteira. Entregou-me a dois pais-avós que souberam me oferecer o amor que você não pode me dar.    

 

TAGS:
Tereza Malcher

Tereza Cristina Malcher Campitelli

Momentos Literários

Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis, presidente da Academia Friburguense de Letras e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.