Ao som do rock; ao toque da palavra

segunda-feira, 04 de junho de 2018

Confirmei. O rock and roll guarda a literatura ao seu modo; ao som da guitarra, ritmada pela bateria, há histórias a contar, temas a serem refletidos, encontros com momentos de relaxamento e prazer. Acabei de ler a biografia da Rita Lee, por ela escrita, cuja música embalou, dando um ritmo alegre aos dias, me fazendo cantar e dançar pela vida. É um texto que revela a genialidade e a autenticidade da premiada Rainha do Rock Brasileiro, que conta sua trajetória, que marcou época com diversos gêneros musicais, como o Pop Rock, Tropicalismo, Bossa Nova, dentre outros.   

Duas razões me motivaram a ler esta obra. A primeira foi o Chopp com Letras, quando David Massena e Déborah Simões abordaram a Rita Lee na Literatura. Mesmo não tendo participado do encontro, o tema do mês de abril de 2018 me atiçou a vontade de conhecer a vida e a obra de uma artista de quem sempre admirei e senti grande simpatia. A outra razão, foram os elogios que minha mãe fez à obra.

A biografia me pegou na primeira página, quando me deparei com um modo de escrever inédito, em que Rita se utilizava de expressões engraçadas, como As Magrelas Felizes do harém quando se referia às mulheres de sua casa. Ah, pobre Charles, o pai, o único homem cercado de tantas mulheres. A biografia é uma viagem literária ao universo artístico de Rita Lee, um baila comigo louco, inteligente e criativo.

Sua história me tocou, e eu gostaria de conversar um pouco, aqui, a respeito. Para começar, sua obra, que abrange principalmente as letras das mais de 300 músicas de sua autoria, contém uma filosofia de vida que sobrevoa o prazer de viver e toma a felicidade como o principal caminho da vida. Possui uma moral hedonista, e, como tal, descreve as passagens de sua vida modo leve e engraçado. Mesmo os momentos tristes, como a perda de pessoas queridas, são tratados com suavidade e ternura.

Rita Lee é uma poeta profundamente afetiva.

O olhar da família é determinante na possibilidade que a pessoa se dá para expandir seu potencial, nas forças que precisa buscar em suas entranhas para superar as inseguranças e os medos existenciais, que são tantos, no enfrentamento das barreiras, muitas vezes perversas, que o ambiente impõe, na coragem para experimentar a autêntica aventura de viver. O acolhimento familiar a permitiu que, através das próprias imperfeições, descobrisse suas perfeições e, assim, tornou-se uma das maiores compositoras e cantoras dos tempos atuais. Ela soube começar e, sabiamente, soube parar.  Fez uma carreira honesta. Rita Lee é múltipla. Poliglota, cantora, compositora, multi-intrumentista, atriz e escritora. Além de uma radical defensora dos animais. Fantasticamente inteligente. E, claro, não poderia deixar de tanto imaginar e fazer loucuras.

Em suas palavras e com sutileza, sua biografia aponta para o livre arbítrio como a única possibilidade que a pessoa tem de fazer uso das possibilidades apresentadas pela vida. Rita Lee caiu com cara e com a coragem no Rock and Roll. A estrofe da letra “Só falta você” diz isso.

 

“Fui andando sem pensar em voltar

E sem ligar pro que me aconteceu

Um belo dia vou lhe telefonar

Para lhe dizer que aquele sonho cresceu”

 

Rita Lee é mais velha do que eu cinco anos, porém está anos luz à minha frente. Tenho o que aprender com ela para me salvar dos sonhos letárgicos que, volta e meia, tomam conta de mim. Ser um pouco Ovelha Negra, vai me fazer bem.

“Baby, Baby

Não vale a pena esperar, oh não

tire isso da cabeça

E ponha o resto no lugar”


 

             

                                                                              

 

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Tereza Malcher

Tereza Cristina Malcher Campitelli

Momentos Literários

Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis, presidente da Academia Friburguense de Letras e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.

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