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Vergonha em verde e amarelo
De acordo com o texto seguinte, extraído do jornal O Globo de domingo último: “BRASÍLIA — No momento em que o governo enfrenta um rombo nas contas públicas e a estimativa de o déficit primário ultrapassar a meta fiscal fixada para este ano, o presidente Michel Temer concentrou, só nas duas últimas semanas, o anúncio de programas e liberações de verbas que chegam a R$ 15,3 bilhões para estados e municípios, num aceno a parlamentares da base aliada. A concentração desse pacote de bondades aconteceu em uma semana decisiva para selar o futuro de Temer na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara”, o Brasil marca mais um ponto na sua caminhada célere rumo ao descrédito nacional e internacional, se é que tem algum.
Com os votos favoráveis ao abortamento da denúncia, 40 deputados se juntaram ao presidente da República, demonstrando claramente que pouco se lixam para o país, que vive uma de suas maiores crises financeiras, com um déficit público que se aproxima dos 100 por cento. Com mais essa demonstração de banditismo explícito, Temer, ainda de acordo com O Globo, “virou um jogo que parecia perdido e saiu vitorioso com a rejeição ao parecer que recomendava a continuidade das investigações contra ele, e a aprovação de um outro relatório, do deputado Paulo Abi-Ackel (PSDB-MG), pelo arquivamento da denúncia. A batalha final está marcada para 2 de agosto, no plenário da Câmara”. Não vai ser difícil imaginar o quanto o governo ainda vai investir para sair vitorioso desse lamaçal.
Mas, tudo isso leva a uma reflexão: será que a Democracia não prevê uma punição exemplar para os executores de toda essa patifaria? Enquanto o assalariado sofre com serviços públicos deficientes e falidos, como são os casos da saúde, da educação e da segurança pública, uma obrigação do estado, nossas autoridades, inclusive o presidente, roubam descaradamente, pois corrupção é a palavra adoçada para roubo. Corrupto é ladrão e ponto final.
O que Temer fez não é em nada diferente do que o que fez sua predecessora, que por isso mesmo foi impedida de continuar. Ora pois, porque temos de aguentar até o final mais um presidente corrupto, e de carteirinha? E o que é pior, a desviar recursos do estado, do povo, para se sustentar no poder. E num regime em que ao eleitor só cabe votar, sem nenhum mecanismo institucional de cobrança, ao longo do mandato, esse ciclo se perpetuou. E o que é pior, de eleição em eleição tornam-se mais ousados e o butim passa de milhares de dólares para milhões de dólares, sem o menor pudor.
O judiciário se esquiva com a alegação de que é vedada, pela constituição, a interferência de um poder sobre outro. Mas, quando esse poder se volta contra a população, a priva de serviços de qualidade, denigre a imagem do país, influencia a bandidagem, pois essa começa a vislumbrar a ausência de autoridade, o judiciário teria sim que intervir. Mas, estaria em condições de fazê-lo ou quem tem telhado de vidro não joga pedra no do vizinho?
Fazer uma reforma política decente é mais do que necessário, mas estariam nossos congressistas, uma grande parte de mãos dadas com a corrupção, em condições de sangrar as próprias entranhas? Não seria a mesma coisa de se colocar uma raposa para cuidar do galinheiro?
São tão venais que um movimento popular com mais de um milhão de assinaturas, visando um projeto de lei que punisse os maus políticos, foi totalmente descaracterizado por aqueles que deveriam zelar pela integridade das instituições.
Não temos mais solução, pois seria preciso no mínimo três gerações para que a situação começasse a entrar nos eixos. Após 517 anos de história, creio que isso já não é mais possível. Nossos recursos naturais vão se exaurindo aos poucos e, ao terminarem, bastará pendurarmos a tabuleta: “Falido”, se é que já não estamos.
Max Wolosker
Max Wolosker
Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.
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