Colunas
Uso indiscriminado pode comprometer o medicamento Liraglutida - 11 de outubro 2011
Há cerca de seis meses foi lançado no mercado brasileiro um novo medicamento para tratamento do Diabetes Mellitus tipo 2, mais conhecido como diabetes do adulto ou não insulino dependente. Este fármaco, a Liraglutida, está indicado àqueles pacientes em que a modificação de hábitos alimentares e a prática de exercícios físicos são insuficientes para normalizar a glicose no sangue e restabelecer o bom controle metabólico do organismo. Tem um mecanismo de ação completamente diferente dos demais remédios para controle dessa doença, uma esperança para minimizar as tão temidas complicações que comprometem em muito a qualidade de vida dos diabéticos.
Como a maioria deles são obesos, um dos efeitos secundários da Liraglutida foi a perda de peso, aliás, uma perda importante muitas vezes de cerca de 10 por cento do peso inicial do indivíduo. Bastou a comprovação desse benefício para que a droga caísse na “boca de Matilde” e passasse a ser largamente utilizada como mais um medicamento para emagrecer, uma droga milagrosa para aqueles obesos cuja mudança de hábitos de vida é apenas um detalhe a ser esquecido.
No entanto, como em todos os medicamentos, os testes de eficácia, tolerabilidade e efeitos colaterais foram direcionados para uma patologia específica. O fato da maioria dos diabéticos adultos serem obesos, como já foi dito, não autoriza seu uso como um fármaco antiobesidade, pois para essa finalidade outros estudos deverão ser idealizados.
É por isso que endocrinologistas sérios estão reticentes em prescreverem a Liraglutida para pacientes que não sejam diabéticos. É preciso que ela tenha mais tempo de uso, seja mais estudada para que uma nova indicação seja acrescentada à sua bula.
Quando medicamentos sofrem desvio de função, ou são receitados abusivamente, correm o risco de terem sua venda proibida, acusados de causarem efeitos danosos à saúde, algumas vezes letais. Na realidade quem tinha de ser retirado do mercado são aqueles que os receitam de maneira inescrupulosa. A própria Sibutramina quase foi cassada pela Anvisa em função de efeitos que poderiam comprometer o bom funcionamento cardíaco, no entanto quando receitada de maneira correta, na dosagem adequada, ela se torna um aliado importante no combate à obesidade.
Para se ter uma ideia da veracidade do que foi dito, uma conhecida farmácia da cidade tem uma lista de espera com mais de 60 pedidos de Liraglutida, pois o laboratório está com dificuldades de abastecer as farmácias, tamanha é a sua procura. Diga-se de passagem, o tratamento mensal é da ordem de trezentos e noventa reais.

Max Wolosker
Max Wolosker
Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.
A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.
Deixe o seu comentário