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Uma tragédia anunciada
Uma das coisas mais difíceis que existe é viver em sociedade cuja principal virtude é reconhecer que o direito de uma pessoa termina quando começa o do próximo; aliás, isso é essencial e se aplica não somente a quem mora em apartamentos, como também em casas.
A Rua Alpina, no Cônego, é totalmente residencial e tem como característica principal o fato de ser sem saída. Algumas dessas residências têm comunicação com a Rua João XXII, do outro lado, e outras não. Numa dessas, o fundo da propriedade que dá para a Rua Alpina está abandonada, com mato alto, o que favorece o crescimento de larvas de mosquito, e o que é mais grave: com árvores, cujo risco, em função da altura, é alto para os vizinhos mais próximos.
São seis palmeiras com mais de três metros de altura e uma árvore com mais de quatro, cujos galhos ultrapassam a largura da rua. Isso é uma ameaça constante para a rede elétrica e para a integridade das casas de ambos os lados e da frente. Aliás, há cerca de seis meses, durante uma forte ventania, um dos galhos se partiu e arrebentou a fiação aérea de energia elétrica e telefonia, prejudicando o fornecimento de luz e telefone de uma dessas residências.
Infelizmente, na virada do ano o mesmo fenômeno ocorreu e, apenas por obra do acaso, não se transformou numa tragédia. Com os fortes ventos daquele dia, o tronco de uma das palmeiras se partiu e se projetou em cima da varanda da casa à direita, arrebentando com o telhado. Se porventura alguém estivesse ali, com certeza teria sido atingido, com consequências sérias; talvez, estivéssemos lamentando mais uma morte estúpida, advinda do descaso e não de uma fatalidade.
O Corpo de Bombeiros foi acionado para a retirada do tronco e, instado a cortar as outras palmeiras, alegou que não poderia fazê-lo, apesar de necessário, por estar em propriedade privada e ser necessário a permissão do proprietário. Foi acionada a Defesa Civil e o funcionário constatou a gravidade da situação e, acompanhado do proprietário da casa atingida, foi conversar com o dono das árvores. Esse, além de receber a Defesa Civil rispidamente, se recusou a tomar qualquer providência.
Analisemos, agora, o absurdo da situação. O perigo iminente de novo tombamento existe, inclusive com risco maior para a casa sinistrada, pois a próxima palmeira a cair irá atingir o telhado principal; se um dos galhos da arvore frondosa se partir, leva com ela inclusive a rede elétrica de alta tensão e pode atingir em cheio a casa do lado esquerdo, sobrando também para o terreno da frente. Se cortarem a árvore, os moradores correm o risco de serem acionados pelo dono do terreno e pela própria Secretaria de Meio Ambiente, já que existe uma lei que proíbe a derrubada de árvores. As palmeiras se forem mexidas caracterizarão a invasão de domicílio, por estarem dentro de uma propriedade privada. Só resta, então, a justiça, cuja morosidade é conhecida, principalmente quando se trata de ação preventiva. Nossa justiça jamais comungará com o ditado de que é preferível curar do que remediar. Ela sempre optará pela segunda alternativa; além do mais, isso vai gerar transtornos financeiros.
No caso da consumação de uma tragédia, além dos custos judiciais, a família vai ter de arcar com custos de aluguel, pois será obrigada a abandonar o imóvel até sua plena recuperação. Claro está, que num país sério, de primeiro mundo, a simples comunicação do fato às autoridades competentes, geraria uma ordem para a poda imediata da árvore e a derrubada das palmeiras, sob pena de penalização do proprietário. Mas é querer muito que isso aconteça num país chamado Brasil, onde a “burrocracia” é uma pedra no sapato da sociedade.
Max Wolosker
Max Wolosker
Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.
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