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Uma cidade ferida e desfigurada - 25 de janeiro 2011
As chuvas de 11 de janeiro não só devastaram a cidade de Nova Friburgo, como passaram a ser a maior catástrofe natural em terras brasileiras. De maneira mais contundente ou mais branda, todos os bairros da cidade foram afetados e o número de mortos não para de crescer, assim como o de desaparecidos. Há locais em que o deslizamento de terra foi tão violento que muitos corpos soterrados jamais serão encontrados. Até o fechamento deste artigo eram em torno de 371 vítimas fatais, cujas identificações são cada vez mais difíceis, pois o processo de decomposição dos cadáveres já está em curso.
Nas ruas Baronesa e Trajano de Almeida, no Centro, pudemos acompanhar de perto o trabalho dos garis da Comlurb, que se desdobravam não só na limpeza das ruas, mas também ajudando moradores a carregarem para fora de suas casas móveis e aparelhos elétricos, que foram inutilizados pelas águas. Vi um morador oferecer dinheiro para que um deles comprasse água e a resposta foi imediata: “Muito obrigado, nós viemos do Rio de Janeiro como voluntários, por livre e espontânea vontade; queremos apenas ajudar”. Belo exemplo de cidadania, que deveria ser seguido por aqueles movidos à propina nossa de cada dia.
Preocupa, e muito, sabermos que 60% das construções da cidade, ou seja, 50 mil imóveis são irregulares, o que mostra ser a fiscalização ineficiente, ou, o que é mais grave, a concessão leviana de obras por parte da Prefeitura. Um exemplo disso é a ocupação desordenada do bairro do Cônego, onde casas e condomínios surgem da noite para o dia. É provável que daqui a 15 anos um acidente climático como este de 2011 cause os estragos que vimos em bairros como Alto Floresta, Jardim Ouro Preto, Conselheiro Paulino e Campo do Coelho, para citar os mais atingidos. Nestes bairros, o uso inadequado do solo, principalmente das partes mais altas dos morros, é o maior responsável pelas casas que foram soterradas e pelo grande número de óbitos.
O que salta aos olhos é que isso não é uma exclusividade de Friburgo, nem do estado do Rio de Janeiro, pois catástrofes desse tipo ocorrem Brasil afora. Assim, é preciso que nossas autoridades passem a agir mais profissionalmente e menos amadoristicamente, para que nossa população, não importa se rica ou pobre, não tenha mais mortos a chorar. Em países mais adiantados ou que têm mais apreço com seus cidadãos, os sistemas de alarme e prevenção atuam com antecedência e salvam muitos de um fim desnecessário. É triste demais tomarmos conhecimento de que uma verba destinada à implantação de um sistema de alerta com radares para prever desastres ambientais em áreas de risco não foi incluída no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), conforme noticiou o jornal O Globo na edição de 21 de janeiro.
É importante frisar que não basta implantar esse tipo de sistema sem um programa de conscientização e treinamento de evacuação rápida para as populações de risco. No caso de Friburgo, em muitos locais atingidos, para onde as pessoas correriam?
Muita coisa a fazer, pois nossa cidade só vai se recuperar por completo, tanto econômica como urbanisticamente, nos próximos dois anos, isso se não tivermos a infelicidade de um novo fenomeno climático semelhante. Mãos às obras e que Deus nos ajude.
Max Wolosker
Max Wolosker
Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.
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