Um estado quebrado, fruto de vários governos corruptos

quarta-feira, 05 de dezembro de 2018

Ainda bem que nasci no antigo Distrito Federal que com a transferência da capital do Brasil, para Brasília em 1960, virou Estado da Guanabara. Assim, nada tenho a ver com o Estado do Rio de Janeiro, fruto da fusão dos estados da Guanabara e do antigo Estado do Rio de Janeiro, durante o governo Geisel, consolidada em 15 de março de 1975.

Se a Guanabara nos ofereceu governadores do quilate de Carlos Lacerda e Negrão de Lima, o novo estado foi marcado por uma sucessão de políticos oportunistas que prepararam o caminho para o desastre que somos hoje. O Rio é impar entre seus coirmãos, conseguindo colecionar quatro governadores presos, sendo o último, Luiz Fernando Pezão, em pleno mandato, detido às 6h da última quinta feira, 29 de novembro, no Palácio Laranjeiras, residência oficial dos governadores do estado.

É estranho que sua prisão só se tenha consumado no apagar das luzes de seu mandato, uma vez que Pezão (ou seria Mãozão?) era o vice de Sérgio Cabral, assumindo o poder em abril de 2014, com a renúncia do governador que se desincompatibilizava para tentar uma vaga no Senado Federal. Com a prisão do ex-governador e com as revelações do vultoso desvio de dinheiro promovido durante seu governo, é muita ingenuidade pensar que o vice não tivesse se locupletado do butim.

Mas, verdade seja dita, Cabral e Pezão são o ápice de uma sucessão de governadores, que culminaram com a falência, o descrédito, a indigência de um estado que tinha tudo para dar certo. Marcello Alencar, por exemplo, foi o responsável pela construção (1996) e inauguração da Via Lagos, em 1998, entregue à iniciativa privada, com um dos pedágios mais caros do país. E o que é pior, com uma sobretaxa nos fins de semana, quando o movimento da estrada aumenta, pela alta procura da Região dos Lagos. A cobrança começa a partir do meio dia de sexta feira (passando de R$ 12 para R$ 20) e termina ao meio dia de segunda feira. Um escárnio, mas tão bem engendrado que não se consegue, na justiça, o fim dessa cobrança. A CCR, administradora da estrada, iniciou sua gestão ainda na época de Marcello como governador.

Anthony William Matheus de Oliveira, conhecido como Garotinho, e sua esposa Rosângela Barros Assed Matheus de Oliveira, a Rosinha Garotinho, são os dois outros ex-governadores do Rio que também passaram pelo xilindró. Mas, como Cabral, a detenção se deu após o término de seus respectivos mandatos. Ambos estavam implicados em possíveis fraudes nas eleições municipais de Campos dos Goytacazes, quando Rosinha foi eleita. Garotinho, por ser considerado ficha suja, não conseguiu a homologação de sua candidatura para governador, na eleição deste ano.

De acordo com as investigações levadas a cabo pela Polícia Federal, a soma dos desvios feitos por Pezão chega à cifra de R$ 40 milhões.  De acordo com o jornal Extra, em sua edição de 29 de novembro, “o valor total atualizado recebido pelo governador Luiz Fernando Pezão como forma de propina, como sustenta a acusação do Ministério Público Federal (MPF) que levou à sua prisão, bancaria os salários de mais de 22 mil servidores estaduais”. 

O mais triste de tudo isso é que nos últimos três anos o funcionalismo público estadual amargou meses de salários atrasados, além do 13º salário deste ano ainda continuar sem previsão de ser pago. Muitos servidores acabaram sendo taxadas como mau pagadoras e entraram para a lista negra dos devedores, em função da picaretagem de políticos corruptos cujo único fim é o enriquecimento rápido e ilícito.

 A população do estado espera, encarecidamente, que a “indústria do habeas corpus” não se faça presente mais uma vez.

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Max Wolosker

Max Wolosker

Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.

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