Um dia para ser esquecido

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Depois do malfadado programa Mais Médicos, creio que não temos mais nada a comemorar no dia 18 de Outubro. Se o médico já vinha perdendo o respeito que sempre teve, ao longo desses anos todos, com uma só canetada, nossa presidenta enxovalhou a profissão e a figura do médico brasileiro.

Aliás, o processo de alienação do povo foi muito bem construído nesses últimos doze anos de governo petista. Primeiro a consolidação da aculturação do povão, fornecendo-lhe o que de pior possa haver em matéria de ensino. Professores mal pagos rendem menos ou abandonam a profissão, em consequência o nível dos alunos é ruim. Segundo: povo alienado perde a capacidade de julgar com consciência e é aí que entra a malandragem da trupe que governa nosso país. Entre não ter médico e ter um de capacidade duvidosa, uma vez que não foi submetido aos exames de capacitação da profissão, o povão bate palma por ser consultado. Se lhe for pedido "uma chapa”, é a glória total. Se o estrangeiro não conhece o português, suficientemente, para discernir entre um pouquinho de macarrão com um porrão de macaquinhos, isto é apenas um detalhe.

Mais triste é assistirmos ao Conselho Federal de Medicina, ou seria a "Confirmação do Funeral do Médico”, um cabide de emprego para vetustos esculápios que não têm capacidade de exercer com louvor a medicina e se valem de postos de comando para sobreviverem, abaixarem as cabeças diante das veleidades dos atuais governantes. Como é que esses senhores terão, depois desse vergonhoso episódio, a coragem de julgar ou punir qualquer médico brasileiro se são eles os primeiros a transgredirem as leis, que eles próprios criaram?

Sou médico há quarenta anos. Ao longo de todo esse tempo o que mais vi, daí nunca ter me interessado em ser médico do estado ou da prefeitura, foi cidadãos se tornam governadores ou prefeitos a peso de ouro (aliás, de onde vem tanta grana?) prometerem saúde para o povo e uma vez eleitos, darem uma banana para esse mesmo povo ingênuo que os elegeu. Uma das desculpas muito usada é que o médico não cumpre horário, no entanto políticos o cumprem menos ainda e ainda recebem um salário, na maioria dos casos, incompatível com suas aptidões.

Mas, nessas minhas andanças pela Europa, principalmente, na França, o que mais escuto são reclamações dos eleitores com relação ao comportamento dos políticos, seus salários e seus gastos nababescos. Na França, o serviço público de saúde, em especial o atendimento de urgência, é um desastre, com médicos mal pagos, sobrecarga de trabalho, sem direito a honorários pelas horas extras trabalhadas, falta de material, falta de espaço físico para colocar os pacientes que requerem atendimento. Igualzinho a um país verde e amarelo da América do Sul. Creio que é por isso que os laços entre a França e o Brasil são tão fortes, ou seja, irmanados nas mazelas nossas de cada dia, ou na certeza de que a França é o Brasil amanhã.

Acho que está mais do que na hora de os eleitores fazerem greve nas próximas eleições, para que a Democracia seja repensada e seja realmente um regime que satisfaça em toda sua plenitude as classes baixa e média. 

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Max Wolosker

Max Wolosker

Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.

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