Colunas
SUS interrompe a distribuição dos análogos de insulina e das fitas para glicemia de ponta de dedo
terça-feira, 10 de fevereiro de 2015
O Bom Dia Rio, edição do interior, de 5 de janeiro, noticiou que os diabéticos tipo 1 (insulinodependentes) em Friburgo não estavam conseguindo mais suas amostras de análogos de insulina na farmácia do Hospital Raul Sertã, encarregada de disponibilizar tais medicamentos aos usuários do SUS. O mesmo também acontece com as fitas para medir a glicemia capilar ou de ponta de dedo, ferramenta indispensável hoje para controle adequado do diabetes.
Análogos de insulina são produtos oriundos da modificação da estrutura normal da molécula de insulina, modificando o tempo de ação dela. Assim, as insulinas NPH humanas, cuja duração do efeito fica entre 10 e 18 horas, e as insulinas regulares, cuja ação dura entre 5 e 8 horas, passam a ter um efeito entre 20 a 24 horas no caso de análogos de longa duração e de 3 a 5 horas no caso dos análogos de ação ultrarrápida. Lógico está que a utilização de ambos não é motivada pela preferência do médico exclusivamente, principalmente pelo alto custo dessas substâncias, mas embasada por critérios de um protocolo criado pela Associação Brasileira de Diabetes. Basicamente se destinam ao tratamento dos diabéticos instáveis ou de difícil controle. Ou seja, no que se refere aos de longa duração, estão indicados para pacientes portadores de diabetes tipo 1 que apresentem oscilações importantes de suas glicemias diárias, com alternância de episódios de hipo e hiperglicemias, já que essas oscilações comprometem a qualidade de vida. Outra indicação é para pacientes que apresentam episódios de hipoglicemia noturna, que são causa de grande estresse para o paciente e seus familiares, pois esses análogos diminuem os episódios de hipoglicemia noturna. Os de ação ultrarrápida são efetivos na redução das oscilações das glicemias pós-refeição e para os pacientes com hipoglicemia nos períodos pós-prandiais tardios e noturnos.
De acordo com a presidente da Associação dos Diabéticos de Nova Friburgo (Adinf), Marcia da Costa Pereira de Jesus, tal interrupção se deve a um atraso na licitação desses produtos, segundo informação da própria Fundação Municipal de Saúde. Ainda de acordo com a presidente, tal licitação deveria ser anual, pois quem usa insulina nunca vai deixar de usá-la, ou seja, uma vez diabético sempre diabético, daí não se entender o porquê desse problema que, aliás, não é de agora, pois a interrupção do fornecimento começou em novembro do ano passado.
Apesar da promessa de que em breve a distribuição vai ser normalizada, o processo dura cerca de três meses, que é o intervalo entre o pedido dos produtos e a chegada à farmácia distribuidora. No entanto, a própria Fundação não tem a mínima ideia de quando isso vai ocorrer; o mesmo acontece em relação às fitas para medir a glicemia capilar, cuja licitação também ainda não foi feita. Ao contrário dos análogos, essas fitas são distribuídas nos postos de saúde, a partir de um cadastro prévio, de preferência no posto mais próximo da residência do diabético.
A Adinf tem entre seus associados cerca de 200 crianças diabéticas, mas o município tem muito mais, pois entre a população diabética, 5 a 10% são do tipo 1, que afeta crianças e jovens, além de adultos abaixo dos 35 anos. As estatísticas mostram uma incidência de sete pacientes a cada 100.000 indivíduos, com um crescimento de 3% ao ano nas crianças em fase pré-escolar. Assim, uma secretaria de saúde previdente estaria sempre licitando um número maior do produto a cada ano.
A desculpa de que na falta do análogo se use a insulina NPH ou Regular não é efetiva, pois esses produtos têm uma indicação específica, e quando o endocrinologista lança mão dele é porque a insulina falhou na sua finalidade de bem controlar o diabetes. Além do mais, a Secretaria de Saúde tem a obrigação de zelar pelo bem-estar da população, pois saúde é um direito constitucional. Afinal de contas, pagamos impostos para termos um mínimo de conforto e não apenas para alimentar a máquina administrativa.
Max Wolosker
Max Wolosker
Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.
A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.
Deixe o seu comentário