Somos um estranho país

quarta-feira, 18 de maio de 2016

O Brasil é mesmo um país curioso, onde a crise econômica é acompanhada, não de uma poupança forçada, mas de uma gastança desproporcional.  Damo-nos ao luxo de termos dois presidentes da Câmara dos Deputados, um em exercício e outro afastado, ambos com os salários e as prerrogativas do cargo: casa, comida, deslocamento (com direito a carro), passagens aéreas, etc. O mesmo acontece na presidência da República, onde Dilma Roussef mantém as prerrogativas do cargo, apenas afastada das funções de dirigir o país. Michel Temer, o presidente em exercício, tem os direitos inerentes ao cargo, pelo menos até sua função ser definida. No caso do afastamento de Dilma ser definitivo, Temer passa a ter seu retrato nas repartições públicas federais, em substituição ao da atual.

No entanto, essa situação deveria ser resolvida, mesmo que o impeachment não seja algo comum. Esse problema não existiu no affaire Collor, pois ele renunciou tão logo o Senado admitiu a abertura do seu processo de impedimento, o que não vai acontecer no caso presente, pois renúncia é uma palavra descartada por Dilma Rousseff. Mas se a presidente afastada está impedida de exercer suas funções públicas por pelo menos 180 dias, portanto nesse período que estará sub júdice, deveria desocupar o Palácio da Alvorada e morar em sua própria casa. O Alvorada é a residência oficial do presidente da República.  Seu salário deveria ser preservado, pois ainda não foi demitida em definitivo, mas seu deslocamento em carro oficial e, o que é mais grave, em aviões militares, deveria ser terminantemente vedado. Afinal, queiramos ou não, o Brasil hoje tem um mandatário em exercício e é ele quem responde pelos destinos do país.

Não cabe aqui discutir se todo o processo é válido ou não, apesar de ter sido balizado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e confirmado por mais de dois terços dos deputados federais, ou seja, teve, também, aval político. O que deve ser mencionado é que teremos dois presidentes a disputar o mesmo avião, um para viagens oficiais, no exercício de suas funções e outro para fazer campanha política, difundindo o tal do golpe e tentando atrapalhar todo um trabalho em prol da necessidade, urgente, de recolocar a economia brasileira e a vida nacional no seu devido lugar. Aliás, um pesado fardo que nos foi deixado por Dilma e seus colaboradores.

E se os dois resolverem viajar no mesmo dia e horário, disputarão quem vai, no jogo dos palitinhos? Claro que por sermos uma democracia ainda jovem, não faz tanto tempo assim que a ditadura se foi, estaremos sujeitos a esses acidentes de trajeto, daí a necessidade de se regulamentar determinadas situações do regime democrático, e o impeachment é um deles. Tudo já deveria estar previsto, aliás, o próprio rito do processo, pois não cabe ao STF determinar como deva ser feito, como foi o atual.       Impeachment é um processo político por excelência; sua judicialização só interessa aos que querem tumultuar todo o seu desenrolar. Se já fizesse parte dos manuais da câmara, era só aplicá-los.

Não teríamos tido necessidade de ver um Waldir Maranhão expor, mais uma vez, o país ao ridículo ao virar marionete de Dilma e José Eduardo Cardoso, pois hoje se sabe que seu ato de invalidar a votação do impeachment pelos deputados foi tramado por Cardoso, com a conveniência de Dilma. Tudo para ganhar tempo, para acentuar a ingovernabilidade e aumentar a crise econômica. Num país sério, ambos teriam que se explicar às autoridades competentes.

O Brasil precisa mostrar ao mundo que é um país sério e seguro, mas com essa classe política, vai ser muito difícil, talvez, impossível. Até Deus desistiu de se brasileiro.

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Max Wolosker

Max Wolosker

Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.

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