Será que ainda podemos sonhar com um país melhor?

terça-feira, 21 de agosto de 2018

O jornalista Merval Pereira passou um mês na Rússia, durante a Copa do Mundo; não foi como membro do caderno de esportes, pois essa não é sua praia. Sua presença em Moscou e adjacências, se deveu a transmissão de notícias de interesse cultural, político e econômico do país dos Tzares, tendo como pano de fundo a maior competição de futebol do planeta.

Muito tem se falado na desilusão, descrença e decepção da sociedade mundial e brasileira, com os rumos da democracia; ela não é mais uma unanimidade como regime político, nem tem nada a ver com a palavra de origem grega demokratía que é composta por demos (povo) e kratos (poder). Neste sistema político, o poder é exercido pelo povo através do sufrágio universal. Que povo? Como?

Na sua coluna de domingo, no jornal O Globo, ele comenta sobre a “democratura” russa, instalada pelo presidente Putin, na realidade um regime de fachada, que limita a liberdade de expressão e reprime questões ligadas à sexualidade dos indivíduos. No entanto, a população russa se sente satisfeita com esse regime híbrido por que tem um sistema de transportes que funciona, os hospitais são eficientes, bem equipados e atendem aos anseios do usuário, a educação é de alto nível. Aliás, como definiu José Murilo de Carvalho (acadêmico da Associação Brasileira de Letras), são os sinais de que uma democratura pode ser suficiente para os cidadãos, que já não encontram na democracia representativa, um instrumento de seus anseios. Será que nosso destino é voltar a ser colônia de algum país desenvolvido? Os políticos brasileiros muito pouco compromissados com seu eleitorado, não conseguem enxergar um palmo diante do nariz. Voto comprado a peso de banana, impunidade garantida.

Esse momento é grave, principalmente entre nós, quando as estatísticas nos mostram que o presidente eleito em outubro, poderá ter uma votação inferior ao número de votos nulos e em branco. Não podemos esquecer, também, que essa alta taxa de sufrágios não válidos, pelas pesquisas, está entre os jovens, na faixa dos 16 aos 23 anos, que não têm o menor interesse pela vida pública, esquecendo que se lhes falta experiência, contam com a vontade de acertar, de mudar, uma impulsividade não vista nessa nossa classe política velha, bolorenta e viciada.

Nossa política atual é dominada pelo poder do dinheiro, sendo impossível ganhar uma eleição sem gastar muito. Como o poder financeiro está nas mãos dos grandes partidos que investem nas velhas raposas de plantão, há décadas, nossa tão propalada renovação é uma utopia. Os candidatos a presidente, com raríssimas exceções, são os mesmos de sempre; para o congresso nacional e para as câmaras estaduais, o que mais se vê são as velhas oligarquias lançando filhos e netos, na tentativa de se manter no poder. Mesmo que papais, mamães, titios estejam atrás das grades ou com investigações em curso, que podem ou não resultar em prisão. É desanimador, pois terão muitos votos.

Enquanto isso, nossos problemas se agravam e, ao contrário de que acontece na Rússia, nossa saúde pública é uma calamidade, nosso ensino é altamente deficiente, nossas estradas uma calamidade e o transporte público um horror. E o que é mais grave, nossa taxa de desemprego é elevada e a automatização da indústria, aliada a uma grande mão de obra desqualificada, traçam um futuro nada promissor para economia brasileira.

No entanto, nossos políticos não estão nem aí, pois o mais importante é se perpetuar no cargo e manter o status quo financeiro que o poder propicia. Os recentes debates para presidente e governador mostraram, claramente, propostas cuja execução ou é inexequível ou utópica.

Nosso futuro é preocupante, nossos políticos completamente dissociados da realidade da população que representam, se é que pensam assim. A sociedade brasileira está inerte, sem saber o que fazer, como sair do labirinto em que se encontra. Será que ainda podemos sonhar com um país melhor?

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Max Wolosker

Max Wolosker

Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.

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