Ser botafoguense é um privilégio

quarta-feira, 16 de agosto de 2017

Cheguei à conclusão de que ser botafoguense é um privilégio para pessoas especiais, não é para qualquer um. Ser Flamengo, Corinthias ou outro time de massa é fácil, muitos o são, basta seguir o fluxo. A mídia, baseada no marketing esportivo, estará sempre apoiando o crescimento dessas entidades, pois o importante é a conta da divulgação, ao final de cada mês. Apoia-se no pressuposto de que num dia de jogo do Flamengo, televisionado pelo canal aberto, o público atingido será muito maior e a probabilidade da venda do produto exposto é muito maior.

No entanto, não podemos esquecer nunca de que um público-alvo menor, mas mais reativo, pode proporcionar bons negócios, às vezes mais duradouros e vantajosos. Aqui, não se pauta pela quantidade, mas sim pela qualidade, o que às vezes é muito mais eficiente.

O botafoguense é sempre um iluminado pela sua estrela solitária, que o conduz como um cometa, a objetivos que nem sempre ele imagina. Paixão sem fanatismo, em se tratando do mundo do futebol, é difícil, mas mesmo o torcedor alvinegro fanático tem certa dose de moderação, pois com serenidade sabe que os objetivos são mais fáceis de serem atingidos.

Quinta-feira passada foi minha primeira vez no Estádio Nilton Santos, no jogo Botafogo versus Nacional de Montevidéu, pelas oitavas de final da Libertadores das Américas. Vi pelo caminho caravanas de várias cidades do interior do estado e percebi o quanto é difícil ir a um evento esportivo, no Rio de Janeiro. Muitos só conseguiram entrar no estádio quando o jogo já estava dois a zero para o Fogão; eram decorridos pouco mais de 10 minutos de jogo.

Para quem vinha de Friburgo e cidades do Centro-Norte fluminense ou daquelas cujos torcedores são obrigados a pegarem a linha vermelha, o engarrafamento começava na Ilha do Fundão. Dali até o Engenhão são, em dias normais, pouco mais de quarenta minutos; no entanto, muitos levaram mais de duas horas. O meu grupo, espelhado na maneira de ser do mineiro, saiu às duas da tarde de Friburgo, e às seis e meia todos já estavam a postos, na arquibancada. Ainda deu tempo, sem tumultos, de um lanche no Bob’s, pois, pasmem, existe um na ala leste superior do estádio.

Quarenta mil e quinhentos torcedores proporcionaram uma festa muito bonita, quando o time entrou em campo, realçada pela beleza do Nilton Santos, cara do Botafogo, um estádio de encher os olhos. A empatia entre jogadores e torcida é algo de emocionar, pois a entrega, a garra, vontade de vencer de cada um é mesmo contagiante. Sem falar que se esses jogadores confiam cegamente no seu técnico, os torcedores também. Tanto é assim que a média de público do time da estrela solitária, na Libertadores, é superior a 30 mil pagantes por jogo, no Rio de Janeiro. Diga-se de passagem que esse número de pessoas sempre gera tumulto, mas jamais brigas entre membros da mesma torcida, como é comum em jogos de outros clubes.

A torcida sabe da limitação do time, pois não tem a mídia, com vários interesses em jogo, a apregoar que o plantel é sensacional. Muito pelo contrário, quando pode, ridiculariza o grupo e grita aos quatro ventos não saber como ele consegue ir tão longe. É aí que entra a mística de uma camisa, o diferencial de uma torcida que sabe, tem consciência de que é privilegiada, que ser botafoguense não é para qualquer um. E, o mais importante, seus jogadores sabem da importância do atual momento e, que campeões ou não, terão escrito, em definitivo, seus nomes na história do clube.

Seremos campeões? É uma pergunta difícil de ser respondida, muitos fatores estão em jogo, mas é possível e é nessa probabilidade que acreditamos. Mas, temos a certeza de que esses trezentos e sessenta e cinco dias sob o comando de Jair Ventura, iniciado em agosto de 2016, são um novo capítulo na história do Botafogo. Basta dizer que o número de sócios torcedores subiu de seis mil para trinta e oito mil.

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Max Wolosker

Max Wolosker

Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.

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