A sensação de morte iminente

quinta-feira, 02 de agosto de 2018

Nesta semana me aconteceu um fato durante a madrugada que não desejo nem ao meu pior inimigo. Era mais ou menos 5h quando tive um acesso de tosse e, em seguida, uma sensação de sufocamento que impedia o ar de entrar nos meus pulmões, e tive de fazer um esforço sobre humano para conseguir vencer essa resistência. Nem as manobras de tapotagem (batidas vigorosas nas costas) aplicadas pela minha mulher, nem a compressão vigorosa da caixa torácica, também aplicadas por ela, fizeram efeito imediato. Aos poucos a passagem de ar foi sendo liberada e a minha respiração voltou ao normal.

Isso, com toda certeza, se deveu a um espasmo na minha glote, uma estrutura anatômica localizada na porção final da laringe com a função de saída e entrada de ar para os brônquios e pulmões; ajuda também na função fonatória uma vez que a prega vocal e vestibular localizam-se dentro dela. Com isso, o espasmo, pode ocorrer com certa frequência, ao engasgarmos com alimentos ou mesmo a saliva, impedindo que haja aspiração de material indesejável para os pulmões, mais precisamente, os brônquios.

Na maioria das vezes atua como uma estrutura de proteção, já que a faringe, a estrutura anatômica no início do aparelho digestivo, passa próxima da laringe. Por isso a recomendação de que se estivermos próximos a uma pessoa que tenha tido uma crise convulsiva, devemos coloca-la imediatamente de lado, para evitar que ela aspire secreções para os pulmões, se a glote não se ocluir.

Várias são as patologias que podem levar a essa ocorrência, com o fechamento inadvertido da glote, sendo os mais comuns o choque alérgico, com o seu consequente edema súbito; a apneia noturna, cuja apneia obstrutiva do sono é a versão mais comum da doença. Nesses casos, o ar para de fluir para as vias aéreas em função de um bloqueio temporário causado pelo relaxamento dos músculos da garganta e o consequente fechamento súbito da glote e os edemas crônicos dessa estrutura, que prejudicam o seu correto funcionamento.

Como numa hora dessas o médico tem de deixar de ser médico e procurar ajuda especializada, marquei uma consulta com um otorrino, pois através de uma laringoscopia ele tem condições de avaliar o que está me levando a esse tipo de problema. Não foi o primeiro, mas eram de pequena intensidade, passando em segundos. Marquei também um pneumologista, pois a função respiratória é o seu metier e ele poderá ajudar a mitigar tais sintomas, até que a causa básica do distúrbio seja descoberta.

Depois de uma crise aguda como a que me ocorreu, o medo de outros episódios é muito presente, o que pode prejudicar o sono normal, pois dormir vai estar sempre associado a uma falta de ar súbita. Se a pessoa é obesa; fuma ou bebe com frequência; tem roncos noturnos a ponto de incomodar a parceira ou parceiro; costuma dormir de barriga para cima; usa sedativos de modo exagerado ou equivocado; tem amigdalas ou adenoides aumentadas, a consulta a um especialista é mandatória.

Fica aqui a velha e surrada frase: “não deixe para amanhã o que tem de ser feito hoje”. A sensação de morte iminente é apavorante.

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Max Wolosker

Max Wolosker

Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.

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