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Rolezinho não é problema social e sim ameaça à ordem estabelecida
terça-feira, 21 de janeiro de 2014
Não se trata de impedir a entrada de jovens da periferia, pobres ou negros como a imprensa vem noticiando, mas sim evitar os tumultos que essa invasão acarreta, pois um direito fundamental dos indivíduos e que os advogados de porta de xadrez estão omitindo é a velha máxima de que os direitos de um cidadão terminam quando começam o do outro. Afinal das contas, shopping é um local de lazer (praça de alimentação e cinemas) e de consumo (comércio variado). Portanto, qualquer outra utilização, seja por crianças, jovens ou velhos, é uma ameaça aos direitos fundamentais do cidadão. "Rolezinho” de um grupo de amigos é uma coisa, de um bando, sejam pobres ou ricos, é tumulto, o que gera insegurança àquelas pessoas que também têm direitos constitucionais de garantia de sua tranquilidade.
Agora, querer processar um shopping por ter cerrado suas portas é muita falta do que fazer. Nas duas últimas ocupações, em Niterói ou São Paulo, não houve saques às lojas, nem as dependências foram depredadas. Mas, no início dessa onda, isso ocorreu, porque é típico da mecânica de grupos de pessoas se sentirem fortes o suficiente para extravasarem toda a sua frustração, em função da pseudossegurança que o grupo proporciona. Quando os protestos contra a corrupção começaram no ano passado, o início era sempre pacífico e o final com muitos feridos e lojas saqueadas e depredadas. Isso em local aberto; imagina o que pode acontecer em locais fechados.
Com o aumento do valor do salário mínimo e com os mais variados tipos de bolsa, o poder de compra do brasileiro aumentou e, mesmo as populações da periferia puderam ter acesso a bens antes impensáveis. No entanto, existem fatores que tem de ser levados em consideração, sem que isso seja discriminação. Dou como exemplo a loja Stockmani, em Chambéry, na França. Nela, as roupas de marca são vendidas com descontos que podem chegar a mais de 50%, isso porque são roupas das coleções do ano anterior. Assim, os franceses de menor poder aquisitivo compram produtos de boa qualidade a um preço muito menor. Aliás, nos Estados Unidos, existem milhares desses estabelecimentos.
No Brasil não é diferente e o preço do mesmo artigo numa loja no centro da cidade ou num bairro, quando comparado às lojas de um shopping, é mais em conta. Não é difícil entender o porquê, mas não custa lembrar: a manutenção de uma loja nesses grandes centros de consumo é muito maior; daí parte dos custos serem repassados ao consumidor, o que torna o produto mais caro.
Temos espaços livres maravilhosos como parques, praias, lagoas, muito mais propícios a esse tipo de manifestação. Podem alegar que não daria ibope, mas não despertariam a ira e o desprezo que tende a aumentar a distância entre as várias camadas sociais. É típico de governos socialistas pregar a igualdade de classes, utopia que nem os caciques do PT acreditam, pois afinal, o tipo de educação, de cultura e de hábitos são diferentes entre as varias camadas sociais. No entanto, direitos iguais é o mínimo que os governos democráticos têm obrigação de garantir aos cidadãos, sem esquecer o fundamental: os deveres também são iguais.
Que se respeite a tranquilidade de quem quer aproveitar seus momentos de lazer.
Max Wolosker
Max Wolosker
Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.
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