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Rescaldos de uma greve
Após dez dias de paralisação chegou ao fim a greve dos caminhoneiros, aliás, mais do que oportuna, pois não é justo que uma categoria pague pela inconsequência de nossas autoridades. Afinal de contas, como tudo gira em função da estabilidade de nossa moeda, o governo controla o preço dos serviços e transfere para a população o ônus do aumento de preços dos produtos básicos, entre eles o dos combustíveis em geral e do óleo diesel em particular. Se caminhoneiros autônomos ou empresas transportadoras pudessem reajustar o preço do frete de acordo com o do diesel, tal greve jamais teria ocorrido. Acredito, como disseram muitos caminhoneiros ao serem entrevistados, que estavam pagando para trabalhar.
O governo brasileiro, seja de que partido, for tem o péssimo hábito de dividir o prejuízo, através de impostos abusivos, com a população ativa, mas seus membros são incapazes de cortar na própria carne. São capazes de empalidecer ou mesmo enfartarem se alguém propuser pagarem imposto de renda sobre o total que recebem por mês (salário mais os penduricalhos que muitas vezes triplicam esse salário), ou mesmo suprimi-los. Mas, congelar vencimentos do funcionalismo público, tentar segurar o aumento do salário mínimo, isso é a primeira coisa que vem à cabeça desses parasitas eleitos a cada quatro anos.
No entanto, é preciso assinalar que como li no link “Retrato das Letras”, escrito por Rodrigo Picon, em 3 de março de 2013, o maior mal do Brasil é o brasileiro, ou seja, seu povo. Basta uma greve como essa mais recente, para que ele mostre todo o seu potencial negativo. Senão vejamos, há relatos de botijões de gás vendidos a R$ 150, mais do que o dobro daquele cobrado em Friburgo. Para quem se dispusesse a comprar o botijão de 12 quilos por R$ 70, preço na distribuidora, a Frigás, no Córrego Dantas, e a Nacional, no Prado, tinham para pronta entrega.
Em alguns mercados o preço de determinados produtos dispararam, isso porque tem aqueles que se dispõem a pagar. O alho passou a ser vendido por um preço exorbitante. Troque-o, então, pela pasta d´alho. A batata inglesa encareceu absurdamente, não compre; um dia, uma semana sem batata não mata ninguém. E pela lei da oferta e da procura, se não vender o comerciante volta aos valores normais de mercado.
E as filas quilométricas para abastecer o carro, quando a distribuição recomeçou? Motoristas chegaram a sair no tapa por causa de combustível. Aliás, tiro meu chapéu para os donos de postos, sei de pelo menos três em nossa cidade, que limitaram a venda em R$ 150 por veículo. Com isso propiciaram a um número muito maior de motoristas a terem combustível, menos, é verdade, mas o suficiente para esperar a normalização do serviço. Não duvido nada de pessoas que tenham saído de um posto para abastecer em outro, a fim de encher o tanque, comportamento típico dos espertinhos, do brasileiro.
Muitos da minha cidade se lembram da época do racionamento de carne bovina. Vi muita madame bater no peito e dizer que tinha pagado o triplo pelo quilo da alcatra, mas que tinha bife no almoço. Nossa senhora! Peixe, carne de porco ou mesmo frango, tem o mesmo valor nutritivo, mas falou mais alto o famoso jeitinho brasileiro. Diga-se de passagem, que é esse mesmo jeitinho um dos grandes problemas do Brasil.
A greve dos caminhoneiros acabou, mas fica a pergunta no ar: após os 60 dias de óleo diesel a R$ 0,46 mais barato, o preço volta ao normal e teremos uma nova greve ou nossas inteligentes autoridades terão tirado algum coelho da cartola para equacionar a operação de que dólar em ascensão com preço do barril de petróleo também em alta é igual a aumento de combustíveis?
Só o tempo será capaz de responder.
Max Wolosker
Max Wolosker
Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.
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