Repetir erros do passado não resolve a questão

terça-feira, 30 de julho de 2013

O que me causa espanto é a memória curta do povo e a insistência de nossas autoridades em repetir os mesmos erros do passado; é como se a criatividade fosse uma coisa do outro mundo. Quando entrei para a faculdade de medicina da UFF nos idos de 1969, a Redentora (revolução de 1964) se debatia já naquela época, com a incapacidade da medicina pública em atingir seus objetivos. Pagava-se mal ao médico e exigia-se eficiência compatível com salários de primeiro mundo. Foi então que um ministro polivalente, como são os políticos tupiniquins, que já militara na fazenda e agricultura, agora exercendo a pasta da educação e cultura, teve uma brilhante ideia: para melhorar o atendimento à população, basta aumentar o número de médicos.

Com a conivência dos docentes universitários e de associações médicas, num autoritarismo sem precedentes, reduziu-se de seis para cinco anos o curriculum da medicina da UFF, numa experiência-piloto, cujo objetivo era aumentar o número de profissionais em atividade. Assim, o curso básico, então de três anos, passou para dois e disciplinas tradicionais como Anatomia Patológica e Farmacologia foram simplesmente abolidas, pois seriam estudadas junto com as cadeiras clínicas.  A Anatomia Descritiva, tão importante na formação do médico, a Fisiologia e a Histologia foram enfiadas goela abaixo dos estudantes, com duração de três meses cada uma, com o objetivo de enxugar o tempo nos bancos universitários. A eficácia disso e as consequências na formação do futuro médico era o que menos importava. Claro está que tal experiência fracassou e, três anos após, tal estupidez caiu no esquecimento de todos. Mas foi mais uma das incongruências gestadas pelo regime militar.

Passados quase cinquenta anos, eis que nas entranhas de um governo que tenta se eternisar no poder, surge outro besteirol, da mesma intensidade do citado anteriormente. O objetivo primordial não é o de melhorar o precáriio atendimento dispensado à grande maioria da população brasileira, aquela que depende prioritariamente da medicina pública, mas sim responder de imediato ao clamor das ruas.

A onda de protestos que varreu o país no final de junho e princípio de julho, exigindo uma postura séria em relação ao cidadão, a cobrança por serviços decentes e a um preço condizente com os impostos pagos, obrigou uma tomada de posição do planalto, ainda mais que 2014 é ano de eleições. Se há uma coisa que político teme é a chamada urna eletrônica e todo esforço para encher essa urna de votos tem que ser tentado.

Assim, a contratação de médicos estrangeiros e, mais uma vez, a alteração do currículo das faculdades de medicina soam aos leigos no assunto como a maneira mais fácil de atingir os objetivos. Mais uma vez tenta-se aumentar o número de médicos e não melhorar a eficiência do atendimento prestado à população. 

A simples fixação de recém-formados em municípios sem a mínima infraestrutura é um crime hediondo cometido contra o formando e contra a população. Essa porque acredita num atendimento que pouco vai adiantar; aquele porque, mais cedo do que deveria, vai tomar contato com a triste realidade de um país fadado a ser pequeno, em função da mente tacanha de seus administradores.

Melhor seria um amplo debate com as associações médicas, com as sociedades médicas, com técnicos do governo e representantes da sociedade guiados, não por objetivos eleitoreiros, mas imbuídos da necessidade de resolver de uma vez por todas o problema da saúde pública brasileira. Prover um atendimento digno, proporcional aos impostos que pagamos, pois da maneira como está sendo feita é pura perda de tempo e uma demonstração inequívoca de 

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Max Wolosker

Max Wolosker

Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.

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