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Repartições do governo deveriam ter mais cuidado em suas declarações - 19 de outubro 2011
Numa decisão que surpreendeu a todos, Anvisa retirou de circulação os medicamentos para emagrecer que continham mazindol, femproporex ou dietilpropiona como princípios ativos e manteve a sibutramina. Contrariando a postura de bom macaco de imitação que era, o Brasil deu uma guinada e colocou-se na contramão dos acontecimentos ao cassar a comercialização daquelas drogas que são vendidas nos Estados Unidos e manter o sal que foi proibido na Europa e também no mercado norte-americano.
O estudo que levou à suspensão da sibutramina do receituário médico naqueles países, o estudo Scout, foi realizado em pacientes obesos e que já continham algum tipo de lesão cardíaca. Isso invalida sua conclusão generalizada, de ser ele prejudicial ao coração, pois nem todos os obesos são hipertensos ou apresentam alterações a nível cardiovascular. No Brasil, os centros de referência para o estudo da obesidade e doenças metabólicas não sinalizaram para efeitos colaterais importantes que levassem ao banimento do medicamento, e afirmaram em uníssono que a droga era segura, quando prescrita corretamente.
Causa estranheza que a liberação da Anvisa esteja atrelada a um termo de responsabilidade assinada por médico e paciente. Isto é uma atitude típica de quem atua em gabinetes, sem o dia a dia da pratica médica. Quando procuramos tratamento, escolhemos um profissional que tenha conhecimento, um bom conceito e esteja sempre atualizado—premissas importantes para cuidar da nossa saúde. Por sua vez, o médico só vai nos receitar medicamentos cuja ação ele conhece e, o que é mais importante, cujos riscos, se houverem, justificarem o seu uso. O cliente não dispõe de conhecimentos científicos para questionar determinado tratamento, senão ele não seria paciente, assim como o médico tem um compromisso ético e regulamentado por um juramento e pela legislação vigente, de não colocar a vida do seu semelhante em perigo. A responsabilidade do profissional é inerente ao próprio ato médico. Sem falar que o cliente tem todo o direito de não utilizar um medicamento que lhe é prescrito. Será que a partir de agora a Anvisa vai exigir registro em cartório com firma reconhecida para que a farmácia seja autorizada a vender o medicamento? Os cartórios agradeceriam.
O importante é discutir a obesidade como um problema mundial de saúde pública, cujas consequências levam a uma diminuição importante da qualidade de vida assim como a um encurtamento de sua expectativa. Deve-se frisar, também, que dieta e exercício físico por si só são insuficientes para um emagrecimento adequado e que os medicamentos antiobesidade são uma ferramenta importante do tratamento. Quando as mudanças de hábitos de vida são alcançadas, o que muitas vezes não se consegue, o obeso tem condições de prosseguir sem o uso de remédios. As complicações mais frequentes da obesidade a serem combatidas compreendem a hipertensão arterial, a aterosclerose com aumento dos casos de enfarte do coração e derrames cerebrais, as dislipidemias, que são o aumento do colesterol e triglicerídeos e as lesões articulares. Assim, o custo-benefício de um tratamento bem-sucedido é uma questão a ser considerada e a perda de peso, de modo seguro, a meta de todo médico responsável. E sem medicamento, isso é quase impossível.
Max Wolosker
Max Wolosker
Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.
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